A quantidade e o perfil etário da população de um país podem gerar informações para mitigar a mortalidade por Covid-19, segundo um estudo realizado por cientistas britânicos e publicado na revista Proceedings of the National Academics of Science (Pnas). A partir dessas informações geográficas, os autores calcularam o número esperado de mortes na Itália e na Coreia do Sul e ilustraram como a pandemia pode se desdobrar em populações com tamanhos populacionais semelhantes, mas diferentes estruturas etárias, como Brasil e Nigéria.
Para a equipe, as análises podem ajudar a identificar quais os melhores planos que podem ser usados para evitar um número alto de óbitos.“Como as mortes foram concentradas em idades mais avançadas, destacamos o importante papel da demografia, particularmente como a estrutura etária de uma população pode ajudar a explicar as diferenças nas taxas de mortalidade entre os países e como a transmissão se desenrola”, destacaram, no artigo, os cientistas, liderados por Jennifer Beam, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
No caso da Itália, Beam e sua equipe calcularam o número esperado de óbitos considerando uma prevalência de infecção de 10% e a mortalidade por idade no país até 30 de março. A Itália tem 23,3% da população com mais de 65 anos e uma alta taxa de mortalidade geral de casos de 10,6%. Nesse cenário, os autores calcularam mais de 300 mil mortes — o último balanço oficial contabiliza 22.170. Na Coreia do Sul, onde apenas 4,5% dos casos ocorreram em pessoas com 80 anos ou mais, a quantidade estimada é inferior a 180 mil — há 229 registrados.
Brasil
A equipe também fez projeções para o Brasil e a Nigéria, com populações semelhantes, mas com diferentes distribuições etárias. Para o Brasil, que tem 2% da população com 80 anos ou mais, espera-se 452 mil mortes (há 1.532 confirmadas), mais de três vezes o número da Nigéria (142 mil), onde apenas 0,2% da população encaixa-se nessa faixa etária. Atualmente, o país africano contabiliza 11 óbitos, também de acordo com a OMS.
Os resultados sugerem que políticas de mitigação de doenças, como o distanciamento social, devem considerar a distribuição etária da população e os contatos sociais intergeracionais. “Também pedimos aos países que forneçam dados de casos e fatalidade desagregados por idade e sexo para melhorar a previsão, em tempo real, das necessidades de hospitalização e de cuidados críticos”, destacaram os autores.
452 mil
Quantidade de óbitos estimados no Brasil utilizando o modelo criado por cientistas britânicos