Os números impressionam. Até o fechamento desta edição, 185 países registravam 2.049.888 casos de infecção com o novo coronavírus e 133.354 mortes — 1.736 delas no Brasil. Apesar da catástrofe humana e econômica, governos de países europeus começaram a afrouxar as medidas de restrição social impostas para tentar conter a disseminação da Covid-19. A Dinamarca reabriu creches e escolas do ensino básico, depois de 34 dias de portas fechadas. As aulas foram retomadas em metade das cidades dinamarquesas e em um terço dos centros de ensino da capital, Copenhague. A Finlândia anunciou o levantamento imediato dos bloqueios em rodovias ao redor de Helsinque e região, colocando fim a 18 dias de limitações à circulação de carros. Em meio à recessão, a Alemanha fixou uma data para reabrir as lojas e as escolas: 4 de maio. A Áustria autorizou o funcionamento de pequenas empresas não alimentícias.
Professor e diretor do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário de Aarhus, a 148km de Copenhague, Lars Ostergaard admitiu ao Correio que o governo dinamarquês tomou uma ação extremamente oportuna. “Em primeiro lugar, as autoridades testaram, rastrearam e confinaram as pessoas em suas casas. Em segundo lugar, introduziram medidas para evitar a disseminação na população, como impedir a aglomeração de mais de 10 pessoas ao mesmo tempo; e fechar escolas, universidades, fábricas e lojas”, comentou.
Segundo Ostergaard, essas ações resultaram em uma taxa de transmissão muito baixa, no subsequente reduzido número de pacientes hospitalizados, mas também na necessidade de suporte com respiradores em unidades de terapia intensiva e na perda de vidas. Nesse contexto, o infectologista acredita ser “razoável” a retomada da rotina na Dinamarca — ontem à noite, o país tinha 6.876 registros de contágio com a Covid-19 e 309 mortes.
Na cidade de Raahe, 603km ao norte de Helsinque, o operador de máquinas Jussi Kiviniitty, 52 anos, afirmou à reportagem que esperava pelo cancelamento do isolamento da região de Helsinque. No entanto, considera necessário algum tipo de distanciamento social, em especial na população idosa. “Alguns temas, como a quarentena prematura para nacionais retornando do exterior, poderiam ter sido mais bem gerenciados. A maioria dos finlandeses ainda confia no governo. Mas, o meu país ainda não assistiu ao pico da pandemia. Precisaremos ser mais sábios durante meados de maio e início de junho”, observou. A Finlândia acumulava, ontem, 3.237 casos de infecção pelo novo coronavírus e 72 óbitos.
A União Europeia (UE) revelou, ontem, um plano para a remoção gradual do confinamento. O objetivo é salvaguardar a economia sem colocar em perigo a saúde da população. “As autoridades públicas devem avaliar de forma bastante cuidadosa o melhor momento para começar a levantar as medidas restritivas, uma a uma”, declarou Ursula von der Leyen, titular da Comissão Europeia. Os 27 países-membros da UE terão de cumprir com três critérios antes de suspenderem a quarentena: redução considerável da propagação, um sistema de saúde suficientemente equipada e capacidade de realizar testes de detecção em larga escala. “Estas recomendações se baseiam no senso comum, nos dados científicos”, avaliou Charles Michel, chefe do Conselho Europeu.
A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que o distanciamento social vigorará até 3 de maio e recomendou aos cidadãos o uso de máscaras de proteção em lojas e no transporte público. A partir da próxima semana, estabelecimentos comerciais de até 800 metros quadrados poderão voltar a funcionar, sob a condição de garantirem a higiene. As escolas retomarão as atividades “gradual e muito lentamente”, com atenções especiais para os recreios e o transporte de alunos. Eventos e shows continuarão proibidos até 31 de agosto.
Estados Unidos
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciará, hoje, as “diretrizes” para a reabertura da economia. O republicano afirmou que o país provavelmente passou pelo pico da pandemia. “Está claro que nossa estratégia agressiva está funcionando. Essa situação encorajadora nos colocou em uma posição muito sólida para finalizar diretrizes para a retomada da atividade nos estados.”
» Eu acho
“É razoável ‘reabrir’ nossa comunidade dinamarquesa de modo bem considerado, gentil e moderado. E as escolas podem ser um dos melhores pontos de partida para isso.” Lars Ostergaard, professor e diretor do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário de Aarhus (Dinamarca).