A Espanha começou a adotar, ontem, um lento relaxamento nas medidas de restrição impostas pelo governo socialista do primeiro-ministro Pedro Sánchez para tentar frear a pandemia do novo coronavírus. Depois de duas semanas de paralisação, as atividades foram retomadas em setores econômicos não essenciais, principalmente na construção civil e na indústria, apesar do fato de o confinamento dos 47 milhões de espanhóis ainda vigorar e o governo recomendar o distanciamento social. Escolas, universidades, casas de shows e locais para eventos esportivos permanecem fechados. A redução no registro de mortes diárias e o menor número de contágios diários desde 20 de março encorajaram Sánchez à flexibilização.
Na tentativa de transparecer esperança, uma das principais autoridades espanholas cometeu uma gafe. “Hoje, começamos uma nova semana de esforço continuado para vencer nosso vírus querido, a Covid-19 (sic). A vitória está próxima, mas não podemos baixar a guarda”, declarou o chefe do Estado-Maior da Defesa, general Miguel Ángel Villarroy. Ontem, o governo começou a distribuir 10 milhões de máscaras para pessoas forçadas a usar o transporte público para voltar ao trabalho.
Na ilha de Palma de Mallorca, o técnico eletromecânico Sebastián de Souza, 40 anos, vê o afrouxamento das restrições com reservas. “Ainda que sejam necessárias para não terminarem de quebrar a economia, as medidas são uma faca de dois gumes, pois podem voltar a ampliar a cadeia de contágios”, disse ao Correio. “Ao flexibilizar a quarentena, muita gente aproveitará para rompê-la.” Até ontem, as Ilhas Baleares tinham 1.550 casos de infecções e 117 óbitos. A Espanha, por sua vez, registrava 169.628 casos e 17.628 mortes.
Na contramão da Espanha, o retorno à rotina está fora de cogitação na França. Em rede nacional de tevê, o presidente Emmanuel Macron reconheceu os fracassos do governo em impedir o alastramento do novo coronavírus. “Nosso país não estava suficientemente pronto para a crise. Todos nós absorveremos todas as consequências”, admitiu. “Este momento, sejamos honestos, revelou fissuras, escassez. Como toda a nação no mundo, nos faltaram luvas e álcool em gel. Não fomos capazes de distribuir a quantidade de máscaras que gostaríamos para os nossos profissionais de saúde.” Terceiro país mais atingido da Europa pela Covid-19, depois da Itália e da Espanha, a França acumulava ontem 137.875 infectados e 14.967 mortes. O chefe de Estado francês estendeu até 11 de maio o rigoroso confinamento da população.
“Devemos continuar respeitando o confinamento estrito. (...) Esta é a condição para retardar ainda mais a disseminação do vírus, encontrar lugares disponíveis para terapia intensiva e permitir que nossa equipe de saúde recupere suas forças”, acrescentou Macron, segundo o qual “a epidemia começa a desacelerar” e “a esperança renasce”. “Em 11 de maio próximo será o início de uma nova etapa. Ela será progressiva, e as regras poderão ser adaptadas em função dos resultados”, disse.
A partir dessa data, as creches e as escolas reabrirão “progressivamente”, mas esse não será o caso das universidades, que não poderão retomar as aulas presenciais antes das férias de verão europeu. Restaurantes, cafés, hotéis, teatros, cinemas e museus ficarão fechados até 11 de maio. “Quando seremos capazes de retornar à vida normal? Eu adoraria ser capaz de responder a vocês. Mas, para ser franco, eu, humildemente, tenho de dizer que não temos respostas definitivas.”
Itália e Alemanha
Com 159.516 casos de infecção pelo novo coronavírus e 20.465 óbitos, a Itália relatou um declínio no número de pacientes em unidades de terapia intensiva pelo décimo dia consecutivo. “Existem sinais positivos, mas o número de mortos ainda é alto porque deve ser atribuído a contágios anteriores”, comentou um membro do Instituto Superior de Saúde (ISS), Giovanni Rezza. A Lombardia (norte), o pulmão econômico do país, continua sendo a região mais afetada, com 10.901 mortes em 60.314 casos; seguida por Emília-Romanha (centro-norte), com 2.615 mortes por 20.440 casos; e Piemonte (noroeste), com 1.826 mortos em 17.314 casos.
A Alemanha também se prepara para suspender gradualmente as restrições relacionadas à nova epidemia de coronavírus, aproveitando uma situação menos dramática do que em outros países europeus, notadamente com mortalidade baixa. Em suas recomendações publicadas ontem, a Academia Nacional de Ciências Leopoldina defendeu um retorno “em etapas” à normalidade se, em particular, os números de novas contaminações “estabilizarem em um nível baixo” e se “medidas de higiene forem mantidas”. Com 129.207 casos, o país contabilizava 3.118 mortes.
17.628
Total de mortos pelo novo coronavírus na Espanha até as 18h30 de ontem — uma letalidade de 10,3%
137.875
Número de infectados com a Covid-18 na França, do quais 14.986 morreram