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Caso de abuso sexual infantil na China gera revolta e onda de relatos

Relatos on-line foram compartilhados por pessoas que sofreram experiências parecidas

A investigação de um caso de suspeita de violência sexual infantil abalou a China e levou muitas pessoas a compartilharem experiências parecidas na Internet, em um país no qual esse tipo de crime fica impune em muitas situações.

Um conhecido advogado chinês, membro da diretoria do fabricante de equipamentos de telecomunicações ZTE, renunciou ao cargo na semana passada, depois que veículos da imprensa local publicaram que ele está sendo investigado por suspeita de abusar de sua filha adotiva, adolescente.

O caso abriu espaço para um acalorado debate nas redes sociais, do qual também participaram alguns famosos.

Anunciada pela ZTE na sexta-feira, a demissão de Bao Yuming aconteceu um dia depois de as autoridades locais de Yantai, na província de Shandong, afirmarem que foi reaberto um caso de agressão sexual envolvendo um pai adotivo identificado como Bao.

A polícia de Yantai formou uma equipe de trabalho, e a emissora de televisão CCTV informou hoje que o governo central enviou uma delegação para Shandong para supervisionar o caso.

As acusações causaram grande revolta na China. Muitos internautas relataram no Weibo, plataforma conhecida como o "Twitter chinês", casos de agressão sexual, ou assédio, sofridos.

Uma universitária de 20 anos, que se identificou como Wang, criticou a pobre educação sexual oferecida no país.

A jovem contou que, quando tinha em torno de seis anos, costumavam enganá-la para que fizesse sexo com um vizinho adolescente de sua cidade, na província de Hubei (centro).

Ela teve conhecimento do que havia acontecido apenas anos depois, quando viu um filme.

"Continuei fantasiando que voltaria para me buscar... Muitas vezes, a televisão mostra as vítimas de estupro como pessoas sujas, incapazes de se casar, ou de serem amadas, e nunca ousei falar disso para minha família", desabafou.

Wang foi uma das 94.000 pessoas que publicaram mensagens com a hashtag "advertência" no Weibo.

Na sexta-feira, nesta mesma rede social, a atriz Zhang Ziyi publicou: "Sabem por que os abusos sexuais de menores acontecem repetidamente? São denunciados repetidamente, mas sempre desaparecem... sem qualquer punição severa".

O advogado Lu Xiaoquan explica que a legislação chinesa não considera crime a agressão sexual, embora algumas infrações sejam passíveis de punição, como estupro, abusos e agressão de menores.

O abuso sexual infantil, por exemplo, é punido com até cinco anos de prisão, embora a pena possa alcançar até 15 anos, a depender das acusações.

Ainda assim, Lu afirmou que o desafio principal está em que as vítimas denunciem, assim como em se conseguir coletar provas e, então, poder fazer justiça.

Nos últimos anos, a China lançou iniciativas para reforçar a proteção de menores.

Em outubro, o país propôs mudar alguns pontos em suas leis de proteção infantil, incluindo os meios para tratar os abusos sexuais e o assédio nas escolas.