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Vírus ameaça os planos de Trump

A pouco mais de sete meses das eleições, presidente dos EUA vê o aumento no número de mortos pela Covid-19 e de desempregos como obstáculos para segundo mandato. Pandemia matou mais de 20 mil


O balanço de mortes nos Estados Unidos é devastador, o equivalente a seis vezes o total de vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001. Até o fechamento desta edição, 20.389 pessoas tinham perdido a vida, depois de contraírem o novo coronavírus — o número de infectados chegava a 524.903. Nova York se consolidou como o epicentro da pandemia, com 6.367 óbitos. Na tarde de ontem, o presidente norte-americano, Donald Trump, publicou uma mensagem de otimismo em seu perfil no Twitter, com letras maiúsculas: “Nós construiremos (o país) novamente!”. O republicano terá uma tarefa difícil pela frente. A 206 dias das eleições presidenciais, Trump enfrenta uma escolha de Sofia: permitir, ou não, o retorno da atividade econômica. Na sexta-feira, ele mesmo admitiu que a decisão será a mais difícil de sua vida. “Terei que tomar uma decisão e só peço a Deus que seja a decisão certa. Mas diria, sem dúvida, que é a decisão mais importante que já tive que tomar”, declarou.

O democrata Joe Biden, potencial adversário nas eleições de Trump, cobrou, ontem, uma postura mais incisiva do presidente. “Nós estamos há meses nessa crise e nossos heróis na linha de frente não têm o equipamento de proteção de que precisam para se manterem seguros. É algo inescrupuloso”, comentou. “Donald Tump precisa usar plenamente o poder da Lei de Produção de Defesa imediatamente”, acrescentou. Além do novo coronavírus, um dos principais inimigos de Trump é a economia. Pelo menos 17 milhões de norte-americanos estão desempregados — há uma previsão de que o número chegue a 24 milhões em abril. Para conter o sangramento da pandemia, o Congresso aprovou em março um pacote de estímulo de US$ 2,2 trilhões, o maior da história.

“Nós precisamos de ajudar o maior número possível de famílias trabalhadoras e de pequenos negócios. Trabalhadores que perderam seus empregos ou viram sua carga horária reduzida e famílias que estão lutando para pagar aluguel e colocar comida sobre a mesa precisam de ajuda imediatamente. Não temos tempo a perder”, disparou Biden.

Em entrevista ao Correio, Bruce Ackerman — professor de direito da Universidade de Yale (em New Haven, Connecticut) — explicou que Biden tem se mostrado incapaz de estabelecer a incompetência de Trump de maneira convincente. “Ele deu algumas declarações fracas, enquanto o democrata Andrew Cuomo, governador de Nova York assumiu a liderança contra Trump em entrevistas nas quais ele ganhou ampla atenção da opinião pública. Talvez Biden apresente uma crítica muito mais vigorosa, à medida que a crise sanitária continuar. Mas somente o tempo dirá isso.”



Por sua vez, Keith E. Whittington, professor de ciência política da Universidade de Princeton (em Nova Jersey), disse à reportagem que o governo de Trump não respondeu bem à ameaça da pandemia. “Em face às dificuldades que os países do mundo têm enfrentado, fica difícil determinar o grau de culpa da atual gestão da Casa Branca. Parece provável que o governo tenha reconhecido a ameaça, ao tomar medidas decisivas em preparação à crise sanitária. No entanto, a burocracia federal foi lenta em suspender as  restrições sobre a produção dos testes e dos suprimentos médicos, o que custou ao país um tempo valioso na resposta à pandemia.” O especialista acredita que Trump não foi eficiente em coordenar a resposta federal ou em fornecer liderança no desenvolvimento de uma resposta política à Covid-19.

Nova York

O prefeito Bill De Blasio anunciou que as escolas públicas da cidade de Nova York seguirão fechadas até o fim do ano letivo, em junho. “Fechar nossas escolas públicas pelo resto do ano (escolar) não é fácil, mas é necessário salvar vidas”, disse. Ele contou que tomou a decisão depois de uma conversa com o infectologista Anthony Faucci, o principal cientista coordenador da luta contra o coronavírus na Casa Branca.

De Blasio informou que 6 mil solteiros que vivem em abrigos para sem-teto na cidade de Nova York — um terço do total — serão transferidos para hotéis “para garantir que as pessoas que precisam ficar isoladas estejam isoladas”.



Pontos de vista


Por Bruce Ackerman


Preço alto a ser pago
“Trump pagará um preço alto, à medida que dezenas de milhões de norte-americanos são lançados para fora do emprego, e seu governo fracassa em agir de forma decisiva para responder efetivamente. Com a crise econômica atingindo níveis sem precedentes desde a Grande Depressão, há todas as razões para esperar que os eleitores americanos votem, de modo esmagador, para retirar Trump da Casa Branca. Assim como o fizeram em 1932, quando negaram a Herbert Hoover um segundo mandato por uma enorme diferença de votos.”
Professor de direito da Universidade de Yale (em New Haven, Connecticut)




Por Keith E. Whittington


O peso da economia
“As consequências atuais da pandemia do novo coronavírus são provavelmente mais importantes para as eleições de 3 de novembro do que o modo como Trump tentou gerenciar a crise. A queda econômica será severa, e isso tem, historicamente, prejudicado o ocupante da Casa Branca nas eleições. Mesmo que o governo tivesse sido muito melhor em responder à crise, a pandemia iria danificar, significativamente, as perspectivas de reeleição do presidente.”
Cientista político da Universidade de Princeton (em Nova Jersey)