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OMS repudia 'campo de testes' na África




A Organização Mundial da Saúde (OMS) condenou “comentários racistas” de pesquisadores que, recentemente, sugeriram que a África se torne “um campo de testes” para uma potencial vacina contra a Covid-19. Sem citar o nome dos cientistas que fizeram a proposta, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da agência e ex-chefe de diplomacia etíope, disse que as declarações representam “o legado de uma mentalidade colonial”, que “deve acabar”.

“Esses tipos de comentários racistas não contribuem em nada para avançar. Vão contra o espírito de solidariedade. A África não pode e não será um campo de testes para nenhuma vacina”, afirmou. A polêmica surgiu, no fim da semana passada, durante um programa de tevê do canal LCI, e envolveu o diretor de pesquisa do Instituto Francês de Pesquisa Médica (Inserm), Camille Locht, e o chefe de serviço de medicina intensiva do hospital Cochin em Paris, Jean-Paul Mira.

Locht estava sendo questionado sobre os estudos realizados para encontrar uma vacina contra o novo coronavírus, quando Jean-Paul Mira o “provocou”: “Se posso ser provocativo, não deveríamos estar fazendo esse estudo na África, onde não há máscaras ou tratamento ou reanimação, como foi feito em alguns estudos da Aids? (...) O que acha?”.  O cientista respondeu: “Você tem razão. (...) Estamos pensando, paralelamente, sobre um estudo na África com o mesmo enfoque, o que não significa que não possamos também pensar em um estudo na Europa e na Austrália.”

A dupla foi condenada por associações de profissionais da saúde, pelo Ministério das Relações Exteriores da França e por associações de defesa dos direitos humanos de outros continentes. Após a repercussão, eles pediram desculpas. “É vergonhoso e horrível ouvir cientistas fazendo este tipo de declaração no século 21” enfatizou, ontem, o diretor-geral da  OMS.

O avanço da pandemia no continente africano preocupa autoridades devido a problemas como falta de saneamento básico e deficiências no sistema hospitalar em vários países. Os casos começaram a surgir na região recentemente, mas em um ritmo acelerado. De acordo com o último balanço da agência de saúde das Nações Unidos, há 6.986 casos confirmados na África, sendo que 20% deles (1.417) foram registrados no domingo e ontem. O total de mortos ultrapassa 300.



Cautela no uso de máscaras
A OMS também alertou quanto a possíveis equívocos relacionados ao uso disseminado de máscaras. Segundo a agência, o artefato não é “a solução milagrosa” para coibir a pandemia de Covid-19 e seu amplo uso na população só é justificado quando o acesso à água para lavar as mãos é limitado ou é difícil manter a distância física entre as pessoas. “Não há resposta binária, nem solução milagrosa. Máscaras por si só não podem parar a pandemia”, enfatizou Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva. Até o momento, a OMS indica que não é necessário que pessoas saudáveis usem máscara, a menos que estejam em contato com os pacientes.