Pela quinta vez em quase 70 anos de reinado, Elizabeth II fez um pronunciamento especial televisionado aos súditos, levando uma mensagem de conforto, na qual evocou o “espírito nacional” do Reino Unido e da Commonwealth para enfrentar a epidemia de coronavírus. “Enquanto já enfrentamos desafios antes, esse é diferente. Dessa vez, nos unimos a todas as nações do mundo em um esforço comum, usando os grandes avanços da ciência e nossa compaixão instintiva para (alcançar) a cura”, disse, do Castelo de Windsor. “Teremos sucesso — e esse sucesso será de todos nós.”
Aos súditos que acompanhavam o discurso pela TV, a rainha, de 93 anos, lembrou da primeira vez em que se dirigiu publicamente à nação, na década de 1940, quando, pela rádio, ela e a irmã, Margaret, discursaram às crianças que tiveram de ser separadas dos pais na Segunda Guerra Mundial. “Hoje, mais uma vez, muitos sentirão uma dolorosa sensação de separação de seus entes queridos. Mas agora, como então, sabemos, no fundo, que é a coisa certa a fazer. Nós nos encontraremos novamente”, disse Elizabeth II, pedindo que os britânicos se mantenham fortes. As outras vezes em que ela fez pronunciamentos especiais foram na Guerra do Golfo (1991), na morte da princesa Diana (1997), na morte da Rainha Mãe (2002) e em seu jubileu de diamante (2012).
A expectativa do governo é de que as recomendações da rainha sejam levadas a sério. Segundo o balanço mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Reino Unido tem 41.907 casos e quase 5 mil óbitos. Há 18 dias, o número de mortes era 200. Primeira autoridade mundial a anunciar que foi infectada pelo Sars-CoV-2, o premiê britânico Boris Johnson foi internado ontem, para fazer exames. Ele testou positivo e ficou 10 dias isolado, mas, na sexta-feira, afirmou que ainda apresentava sintomas. Segundo um comunicado da assessoria de imprensa do primeiro-ministro, a hospitalização é “uma medida de precaução”.
No mesmo dia do discurso da rainha e da internação do premiê, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, disse à rede Sky News que “uma pequena minoria” segue sem respeitar as normas de isolamento, e ameaçou endurecer o confinamento, se a população não colaborar. “Se não quiserem que decidamos proibir atividade física fora de casa, cumpram as regras”, afirmou. Em 23 de março, o Executivo determinou que, por pelo menos três semanas, os cidadãos só saiam de casa para fazer compras, ter atendimento médico e se exercitar uma vez ao dia.
Coragem
Ante a uma Basílica de São Pedro vazia, o papa Francisco também encorajou os fiéis a enfrentarem a pandemia de coronavírus, que já causou a morte de 65 mil pessoas. Na celebração do Domingo de Ramos, o pontífice pediu que os católicos não se sintam abandonados. “Hoje, no drama da pandemia, perante tantas certezas que se desmoronam, diante de tantas expectativas traídas, no sentido de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: ‘Coragem! Abra o coração ao meu amor’”, afirmou, na homilia. “Olhem para os verdadeiros heróis que vêm à tona nestes dias. Não são os que têm fama, dinheiro e sucesso, e sim os que se entregam para servir aos demais.”
Os números implacáveis da Covid-19 não param de crescer. Até ontem, havia mais de 1,2 milhão de infectados, em 190 países, segundo balanço da agência France Presse. Mais de 47 mil mortos estão na Europa, e Espanha e Itália — os países mais atingidos — registram uma queda na hospitalização de pacientes. “Começamos a ver uma luz no fim do túnel”, disse o chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, que prorrogou até 25 de abril o confinamento no país, onde o isolamento já dura três semanas. As cifras parecem sustentar sua esperança.
Pelo terceiro dia, a Espanha teve o registro diário mais baixo dos últimos 10 dias, com 674 mortos. Até agora, 12.418 pessoas morreram de Covid-19 no país. A Itália, que detém o recorde mundial de 15.362 mortos, também registrou avanços. Ontem, foram 681 mortos, uma queda de mais de 10%, e o número de pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) caiu para menos de 4 mil pela primeira vez desde o começo da crise. “É uma notícia importante, porque permite que nossos hospitais respirem”, declarou o chefe da Defesa Civil italiana, Angelo Borrelli. Na França, a Direção-geral de Saúde anunciou a morte de 357 pacientes hospitalizados em 24 horas, a cifra mais baixa em uma semana. O número de internos em UTIs também diminuiu.
EUA
Já os Estados Unidos estão em plena explosão da doença, ultrapassando 310 mil casos e 8,5 mil mortos. O estado de Nova York, epicentro da epidemia norte-americana, teve seu pior dia no sábado, com 630 mortos. Citados pelo jornal The New York Times, duas das principais autoridades de saúde do governo Donald Trump fizeram sérias advertências aos cidadãos do país. De acordo com eles, nessa semana, quando o surto deverá atingir o pico em lugares como a cidade de Nova York, será o “nosso Pearl Harbor”, em referência ao ataque militar japonês à base naval no Havaí na Segunda Guerra, quando 2.403 norte-americanos morreram.
“Será o nosso momento em Pearl Harbor. Será nosso 11 de setembro. Será o momento mais difícil para muitos norte-americanos em toda sua vida”, afirmou ao programa Meet the Press o cirurgião geral Jerome M. Adams, vice-almirante no Corpo de Comissionados do Serviço de Saúde Pública dos EUA. O infectologista Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas do país, alertou que “será uma semana ruim”. “Vai ser chocante para alguns, certamente perturbador”, afirmou. Segundo Fauci, mesmo que a curva comece a achatar, os próximos 15 dias serão de aumento no número de óbitos.