O custo dos Jogos para o Japão
No final de 2019, os organizadores haviam estimado que o custo total da organização dos Jogos de Tóquio (24 de julho a 9 de agosto) deve subir para mais de um trilhão de ienes (cerca de 11,5 bilhões de euros) em relação aos japoneses.
Essa conta seria dividida entre a cidade de Tóquio (597 bilhões de ienes), o Comitê Organizador local (603 bilhões de ienes) e o estado central (150 bilhões de ienes).
No entanto, a participação financeira do governo central seria dez vezes maior, de mais de um trilhão de ienes, de acordo com a Comissão de Verificação de Contas do Japão, que decidiu contabilizar todas as despesas desde que a sede dos Jogos foi atribuída a Tóquio em 2013.
As empresas privadas japonesas, que patrocinam o evento em um grau significativo, investem 348.000 milhões de ienes (quase 3 bilhões de euros), um recorde.
Por outro lado, esse custo não incluía patrocínios mundiais que foram assinados entre multinacionais e o Comitê Olímpico Internacional (COI) que afeta vários eventos olímpicos. Nesse caso, existem empresas japonesas como Toyota, Bridgestone e Panasonic.
Setores que serão afetados
A maioria dos investimentos, principalmente a construção de novas instalações esportivas, já foi realizada e já contribuiu para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional nos últimos anos.
O adiamento dos Jogos Olímpicos deve acarretar uma queda no setor de turismo e consumo em geral, que já está em crise há meses.
A atividade turística no país começou a sofrer em meados do ano passado devido às tensões históricas reacendidas entre Tóquio e Seul, que causaram um boicote maciço do Japão por parte de turistas sul-coreanos, o segundo maior contingente de visitantes estrangeiros no Japão atrás apenas dos chineses.
Com a nova pandemia de coronavírus deste ano, o Japão está privado de turistas da Coreia do Sul e da China continental, que representaram só entre eles, metade dos 31,9 milhões de visitantes estrangeiros no país em 2019.
Em fevereiro, o número de visitantes estrangeiros no Japão caiu 58,3% em relação ao ano anterior, afetado por uma queda de 87,9% dos turistas provenientes da China, de acordo com os dados mais recentes do Escritório Nacional de Turismo do Japão (JNTO).
No entanto, a importância do turismo para a economia japonesa altamente diversificada e industrializada ainda é fraca: as despesas de turistas estrangeiros pesaram apenas 0,9% do PIB do Japão em 2018, segundo o gabinete de estudos econômicos da CEIC.
O Ministério do Turismo japonês havia estimado em 600.000 o número de visitantes estrangeiros esperados para os Jogos de Tóquio-2020.
Os dados sobre o consumo das famílias no Japão também estão com problemas desde outubro, penalizados pelo aumento do imposto sobre o valor agregado no país.
O impacto no PIB
Com a pandemia de coronavírus, o Japão caminha rumo a uma recessão, caracterizada por uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) em pelo menos dois trimestres consecutivos. O PIB japonês já havia regredido 1,8% no quarto trimestre de 2019, comparado ao terceiro.
O gabinete de estudos Fitch Solutions estimou na segunda-feira que o PIB japonês recuaria 1,1% em 2020, em vez da previsão anterior de 0,2%, devido ao impacto do Covid-19 no consumo, turismo e exportações.
O adiamento das Olimpíadas de Tóquio pode aumentar ainda mais essa previsão negativa "de 0,5 para 0,8 pontos percentuais", alertou a Fitch Solutions.
A ausência de um evento dessa magnitude deve "afetar a confiança dos consumidores japoneses", além de privar o país de 240 bilhões de ienes (2 bilhões de euros) de receita relacionada a espectadores estrangeiros, estima Takashi Miwa, economista da Nomura, entrevistado pela AFP.
Os economistas da SMBC Nikko Securities, previram nesta terça-feira que o adiamento dos Jogos Olímpicos terá um impacto negativo total de 660 bilhões de ienes (5,5 bilhões de euros) no PIB japonês deste ano.
Mas, como é um adiamento do evento e não um cancelamento definitivo, o impacto no crescimento deve ser nulo a longo prazo, apontam eles.