Os Estados Unidos realizaram ontem o primeiro teste em humanos de uma vacina experimental para proteger contra o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19. Segundo um comunicado do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid), que faz parte dos Institutos Nacionais de Saúde, a substância foi aplicada em um voluntário no Instituto Kaiser de Pesquisa Permanente em Saúde em Washington, Seattle. Além dele, 44 pessoas saudáveis, com idades entre 18 e 55 anos, participarão do estudo, com duração de seis semanas.
Uma vacina eficaz é, segundo especialistas, a única maneira de frear a rápida disseminação do SARS-CoV-2. Os primeiros casos foram registrados em dezembro do ano passado em Wuhan, na China. Ontem, o balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS) contabilizou mais de 168 mil ocorrências confirmadas e 6,6 mil óbitos. O estudo avalia qual a dose mais segura e capaz de induzir a resposta imune. Depois da fase 1, em que se avaliam esses dois quesitos, há outras duas etapas, até a substância estar pronta para o mercado.
Chamada de mRNA-1273, a vacina foi desenvolvida por pesquisadores do Niaid em colaboração com cientistas da Moderna, uma empresa de biotecnologia em Cambridge, Massachusetts. As ações da farmacêutica subiram 42% na terceira semana de fevereiro, quando foi anunciado que a substância estava pronta para testes.
Resposta imunológica
Nas etapas anteriores, com animais, a vacina se mostrou promissora, de acordo com a companhia. A mRNA-1274 estimula as células de defesa a expressar uma proteína que, por sua vez, desencadeia uma forte resposta imunológica.
“Encontrar uma vacina segura e eficaz para prevenir a infecção pelo SARS-CoV-2 é uma prioridade urgente da saúde pública”, disse Anthony S. Fauci, diretor do Niaid, em nota. “Esse estudo da fase 1, lançado em velocidade recorde, é um primeiro passo importante para alcançar esse objetivo”, assinalou o infectologista. Em seguida, ele esteve na Casa Branca para anunciar a novidade ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump, para quem a epidemia no país deve durar até julho ou agosto.
A substância não foi desenvolvida da noite para o dia. O novo coronavírus compartilha características com os micro-organismos causadores da síndrome respiratória aguda grave (Sars), que atingiu o continente asiático no início dos anos 2000, e com a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), que eclodiu naquela parte do mundo em 2012.
O Centro de Pesquisa de Vacinas dos EUA e a Moderna já vinham trabalhando em uma vacina contra a Mers e a Sars, o que deu agilidade ao desenvolvimento da imunização. Quando cientistas chineses revelaram, em fevereiro, o perfil genético do SARS-CoV-2, os cientistas identificaram rapidamente na plataforma de mRNA já existente a sequência ideal para expressar a proteína que desencadeia a resposta do organismo. “Esse trabalho é fundamental para responder à ameaça desse vírus emergente”, disse, no comunicado do Niaid, Lisa A. Jackson, cientista sênior do instituto onde estão sendo feitos os testes em humanos.
Os participantes do estudo receberão duas doses da vacina por injeção intramuscular no braço, com aproximadamente 28 dias de intervalo. As quantidades de substância testadas serão de 25 microgramas (mcg), 100mcg e 250mcg, para determinar a mais segura e eficaz. A estimativa do Niaid é que os primeiros resultados sejam publicados em três meses.
Atualmente, há, pelo mundo, cerca de 50 estudos que buscam encontrar uma vacina contra o SARS-CoV-2. No Brasil, pesquisadores do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) também se baseiam na plataforma tecnológica de mRNA para chegar a uma candidata em potencial. De acordo com a Agência Fapesp, os cientistas esperam que em poucos meses consigam começar testes em modelos animais.