Correio Braziliense
postado em 16/03/2020 11:44

Essa é a previsão inicial, mas o período pode ser estendido caso a crise do coronavírus não melhore na Alemanha. Os casos de infectados no país escalam rapidamente: no domingo, o Instituto Robert-Koch divulgou que há 4.838 pessoas com o novo coronavírus no país, das quais 265 estão em Berlim. Com estudantes do jardim de infância ao ensino médio precisando ficar em casa, isso muda também a rotina dos pais. Os que tiverem essa possibilidade passam a trabalhar em home office. O que pode diminuir o fluxo de pessoas nas ruas: o transporte público em Berlim faz estudos para reduzir seu funcionamento de acordo com isso.
Vida cotidiana em suspensão
Em acordo publicado nesta segunda-feira (16/3), o governo federal da Alemanha e os governos estaduais determinaram que ficam proibidos encontros em igrejas, sinagogas, mesquitas e templos de qualquer outra fé. Cursos (incluindo livres, de música e para adultos), excursões e outros tipos de reuniões também se tornam proibidas a partir desta segunda-feira (16/3). Clubes noturnos, bares, museus, teatros e cinemas, que já estavam fechados em Berlim, também param de funcionar em todo o país. Bordeis, cassinos, brinquedotecas entre outros tipos de estabelecimento passam a ter funcionamento suspenso. Outra recomendação é que os restaurantes tenham horário de funcionamento restrito: podem abrir a partir das 6h e devem fechar até as 18h.

Apesar de aumentar o número de pessoas que tem ficado em casa, neste último fim de semana, foi possível ver muitos moradores de Berlim aproveitando o que poderia ser a última chance de sair livremente antes que o país entre em lockdown, como o imposto em Itália e Espanha. Assim, parques e restaurantes continuaram cheios, apesar de o movimento ser menor que o habitual.
A fim de reforçar as medidas de segurança, foi disponibilizada uma força policial adicional de 200 oficiais nas ruas de Berlim. São funcionários que, desde a noite de sábado, fiscalizam se as pessoas estão cumprindo as restrições impostas pelo governo. Quem descumprir as medidas estará cometendo crime ao violar a “Lei de Proteção contra Infecções”, válida em toda a Alemanha, e poderá ser multado (em até 25 mil euros) ou ser submetido a pena de reclusão de até cinco anos.

A fim de reforçar as medidas de segurança, foi disponibilizada uma força policial adicional de 200 oficiais nas ruas de Berlim. São funcionários que, desde a noite de sábado, fiscalizam se as pessoas estão cumprindo as restrições impostas pelo governo. Quem descumprir as medidas estará cometendo crime ao violar a “Lei de Proteção contra Infecções”, válida em toda a Alemanha, e poderá ser multado (em até 25 mil euros) ou ser submetido a pena de reclusão de até cinco anos.

Escolas fechadas
Irena Bender, 57 anos, é professora da Johannes-Schule-Berlin, escola da pedagogia Waldorf que tem cerca de 250 alunos e funciona no bairro de Schöneberg na capital alemã. Nesta segunda-feira (16/3), docentes da instituição encontraram os estudantes do primário pela última vez antes de entrarem num período de recesso, de pelo menos cinco semanas, forçado pela crise do coronavírus. Os alunos do secundário já não tiveram aulas nesta semana. As comunidades escolares começam a pensar nas consequências que isso trará, especialmente para os que terminarão agora o ensino médio.

Engenheira agrônoma e mestre em ciências, ela lamenta que o recém-iniciado projeto sobre “ofícios antigos” seja interrompido. Dentro dele, as crianças visitaram um ferreiro, um carpinteiro, uma vila-museu e estavam prestes a visitar uma padaria, a fim de mostrar como são feitos os pães, quando as visitas foram suspensas com o agravamento do Covid-19. Antes de a escola fechar, a rotina já tinha sido afetada pela doença. Tradicionalmente, os professores cumprimentavam cada aluno com um aperto de mão.
Há duas semanas, esse tipo de gesto foi proibido. Irena explica que cada educador encontrou um modo alternativo de cumprimentar os estudantes: ela, por exemplo, passou a encostar cotovelo com cotovelo. Ao chegar à sala de aula, cada aluno era orientado a lavar as mãos. Professores e outros colegas de trabalho não ousam se aproximar uns dos outros: conversam de longe, a pelo menos 1,5 metro de distância. “As crianças se mostraram muito nervosas com o vírus. Todos só pensam nisso. O corona virou até tema de brincadeira: um aluno dizia que era o corona e corria atrás dos outros, que fugiam.”

A instituição precisará oferecer aulas para um grupo de emergência, formado por filhos de pais que trabalham em áreas consideradas fundamentais, incluindo saúde, bombeiros e polícia. Haverá um revezamento entre os professores para que, a cada dia, um venha e lecione. Irena não participará do rodízio porque tem asma, portanto, faz parte de um grupo de risco. Durante as próximas semanas, a professora se isolará numa casa de campo. Para ela, que viveu numa Alemanha dividida durante muito tempo, ver o país fechar fronteiras faz lembrar a época da Guerra Fria e pré-queda do muro de Berlim.
*A jornalista é bolsista do Internationale Journalisten-Programme (IJP)
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