Berlim — O novo coronavírus avança pelo continente europeu, onde mais de 18 mil pessoas estão infectadas. Só na Itália, país com o maior número de contágios fora da China, os casos confirmados ultrapassam 10 mil, com 631 mortes. Na Espanha, são mais de 2,1 mil diagnósticos, e na França, 1,8 mil. Com aproximadamente 1,5 mil registros da Covid-19, a Alemanha se prepara para evitar o agravamento da situação.
Ontem, a chanceler Angela Merkel declarou que a estimativa de especialistas é que de 60% a 70% da população do país contraia o coronavírus em algum momento. “Agora, é a hora de ganhar tempo e diminuir a propagação do vírus”, alertou Merkel, em entrevista. Até o momento, três pessoas morreram no país em decorrência do coronavírus.
O contágio pode demorar mais ou menos tempo, dependendo das medidas que forem adotadas pela sociedade como um todo. O aviso foi dado ao lado do ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, e do presidente do Instituto Robert-Koch, Lothar Wieler, espécie de cientista-chefe para assuntos de coronavírus no país. “Quanto mais demorar, melhor será. É uma curva, o número de casos vai aumentar e mais pessoas vão morrer”, disse Wieler.
Angela Merkel enfatizou que este é o momento de se adotar todas as medidas possíveis para conter a propagação do vírus. “É uma doença para a qual não há imunidade e não há opção de vacina até o momento. Estamos numa situação em que sabemos muito pouco, mas o que sabemos é que temos que tomar toda ação possível para ganhar tempo e diminuir a velocidade de contágio”, assinalou.
As recomendações de saúde estão sendo constantemente atualizadas de acordo com a gravidade do contexto. Com relação a idosos, doentes crônicos e outros grupos vulneráveis, Lothar Wieler ressaltou que o melhor a fazer é não expô-los a situações em que há mais chance de contágio, que são ambientes com muita gente.
Angela Merkel reforçou o pedido à população para que sejam tomadas medidas de prevenção. “É uma questão de proteger as pessoas mais velhas e mais vulneráveis à doença. Sabemos que temos muitas pessoas em grupos de risco”, afirmou.
A preocupação da chanceler é adotar providências para reduzir o ritmo de contaminações e garantir que o sistema de saúde alemão não fique sobrecarregado, preparando-se, nesse tempo, para receber mais pacientes. “Esse é apenas o começo de uma epidemia”, destacou Lothar Wieler.
Em Berlim, o número de contágios chegou ontem a 81, um número baixo em comparação com outras regiões mais afetadas. Mas, como medida de prevenção, muitas escolas e creches foram fechadas. Em empresas e universidades, várias atividades passam a ser feitas em home office.
Eventos cancelados
Merkel também avaliou o impacto do problema na economia. Hotéis, feiras e outros tipos de negócios têm visto o movimento e seus rendimentos caírem. A orientação do governo alemão é a de que todo evento com mil pessoas ou mais seja cancelado.
Foi por esse motivo que a Feira Internacional de Turismo de Berlim, a maior do mundo, foi suspensa. O evento estava marcado para ocorrer entre os próximos dias 12 e 15 com a expectativa de receber mais de 100 mil pessoas. O cancelamento de partidas de futebol tem gerado descontentamento entre torcedores.
A chanceler e o ministro da Saúde pediram a mobilização da população e ressaltaram que até mesmo eventos bem menores devem ser repensados. “O vírus está aqui e temos que lidar com ele. Os jovens podem pensar ‘a doença não vai me matar’ e continuar vivendo normalmente sem nenhum cuidado, mas temos que tomar essa decisão como sociedade, como famílias e evitar encontros, como aniversários, casamentos e funerais”, advertiu Jens Spahn.
O ministro destacou que muitas empresas permitiram trabalho a distância e facilitaram licenças de saúde. “Nós, como governo, queremos apoiar essas decisões”, disse. “A saúde vem antes da economia, mas temos que pensar no impacto econômico também”, ponderou. A preocupação com as finanças não afeta só a Alemanha, mas a Europa como um todo. Merkel comentou que a União Europeia está coordenando a criação de um fundo de resposta ao coronavírus para lidar com a situação.
Estoques
Com um número crescente de casos de coronavírus, há cada vez mais pessoas que precisam ficar em quarentena. Diante desse cenário, muitos alemães têm corrido para os supermercados. É comum chegar a esses estabelecimentos e se deparar com prateleiras vazias, especialmente em cidades com maiores ocorrências da doença. Produtos como papel higiênico, enlatados e outros alimentos não perecíveis são os que mais começam a ficar em falta.
*A jornalista é bolsista do Internationale Journalisten-Programme (IJP)