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Manifestantes voltam às ruas

Um dia depois do maior protesto realizado este ano, milhares vão à Praça Itália, em Santiago, rechaçar o projeto de reforma da Constituição, herdada do ditador Augusto Pinochet. Mais uma vez, houve violência e confrontos com a polícia



Chilenos contrários à reforma da Constituição voltaram às ruas de Santiago ontem para defender que a Carta Magna herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) não seja alterada. Desde outubro, milhares de pessoas organizam protestos em massa todas as sextas-feiras, na Praça Itália, para rejeitar o governo de Sebastián Piñera. Ao mesmo tempo, aqueles favoráveis à mudança também se manifestam, pedindo que o documento redigido em 1980 seja substituído por um novo, elaborado por uma Assembleia Constituinte. Os embates deixaram 31 mortos, em quatro meses.

Com capacetes, coletes à prova de balas e bastões retráteis, autointitulando-se linha de frente — como os manifestantes pró-reforma, que enfrentam a polícia também todas as sextas na Praça Itália —, cerca de 40 pessoas lideraram o avanço da marcha, ontem. Alguns episódios de violência foram registrados. “Há coisas para corrigir, mas mudar a Constituição não é necessário hoje, porque é mudar as regras do jogo como se tudo estivesse ruim”, disse à agência France Presse Maximiliano Leiva, engenheiro comercial de 43 anos. “Para que partir do zero quando já temos uma Constituição?”, questionou Francisco Acevedo, 19 anos. O plebiscito será realizado em 26 de abril.

Na sexta-feira, houve a maior concentração de manifestantes no ano. A polícia cercou a Praça Itália e usou jatos de água e gás lacrimogêneo para dispersar algumas pessoas encapuzadas, que jogaram pedras e paus nos policiais. Também ocorreram protestos em outros pontos de Santiago, liderados principalmente por estudantes do ensino médio. De manhã, houve confrontos nos arredores do Instituto Nacional, situado a poucas quadras do Palácio do governo.

Ontem, os manifestantes se reuniram na estação de metrô El Golf, uma zona nobre da capital, para seguir para os arredores da Praça Itália. No trajeto, palavras de ordem como “Viva, Pinochet!”. Um grupo à frente da marcha agrediu algumas pessoas que estavam no local, incluindo um jornalista da France Presse que cobria o ato.

Caso os chilenos votem pela reforma, será eleita uma Constituinte, com paridade de gênero nas candidaturas. O Congresso aprovou há quatro dias uma lei  que garante um número igual de homens e mulheres na disputa por uma vaga na Assembleia que redigirá a nova Carta Magna. Por 28 votos a favor, seis contra e quatro abstenções, o Senado aprovou o teto, que já havia passado pela Câmara dos Deputados. A medida recebeu apoio da oposição e da maioria, e foi comemorada por organizações feministas. Agora, falta o presidente Piñera promulgá-la.