Recep Tayyip Erdogan está em Moscou nesta quinta-feira para conversar com Vladimir Putin, com o objetivo de encontrar uma solução para aliviar as tensões na SÃria, onde a ameaça de conflito direto entre Rússia e Turquia não está totalmente descartada.
A reunião acontece quando dezenas de soldados turcos foram mortos nas últimas semanas em intensos combates na região de Idlib, a última fortaleza rebelde e jihadista no noroeste da SÃria, onde a Turquia intervém contra as forças do regime de Bashar al-Assad.
Assad, apoiado pela força aérea russa, lançou em dezembro uma ofensiva em Idlib, que causou uma catástrofe humanitária, com quase um milhão de deslocados em direção à fronteira com a Turquia.
Nesta quinta-feira, pelo menos 15 civis, incluindo uma criança, foram mortos em ataques aéreos russos em Idlib, de acordo com o Observatório SÃrio para os Direitos Humanos (OSDH).
"A situação em Idlib se agravou tanto que exige que tenhamos uma conversa pessoal e direta", disse Putin no inÃcio do encontro com seu colega turco no Kremlin.
Ele expressou condolências a Erdogan pela morte dos soldados turcos na SÃria, enfatizando, porém, que "o exército sÃrio também sofreu pesadas perdas" nas últimas semanas.
"Precisamos conversar sobre isso para que não se repita e não destrua as relações russo-turcas", disse Putin.
Por sua parte, Erdogan afirmou esperar que as decisões tomadas hoje "apaziguem a região (de Idlib) e nossos dois paÃses".
Na véspera de sua partida para Moscou, o presidente turco já havia expressado a esperança de obter um "cessar-fogo o mais rápido possÃvel na região" de Idlib.
A escalada resultou em tensões diplomáticas entre Moscou, aliado do regime sÃrio, e Ancara, que apoia os rebeldes, representando um risco real de confronto direto entre os dois paÃses que se estabeleceram como atores principais no conflito sÃrio.
O enviado da ONU para a SÃria, Geir Pedersen, pediu na quarta-feira uma solução diplomática "imediata" na SÃria.
"Um cessar-fogo pode ser anunciado no final das discussões entre Putin e Erdogan, mas será apenas para o espetáculo", relativiza, no entanto, um diplomata ocidental.
"Acho que Putin dirá a Erdogan que é hora de acabar com suas ações na SÃria", acrescentou.
Acusações mútuas
"A vitória na SÃria se tornou uma questão de prestÃgio para a Rússia e pessoal para Putin", assegura Yuri Barmine, analista do Conselho russo de Assuntos Internacionais, sugerindo que Moscou, que intervém militarmente em solo sÃrio desde setembro 2015 não está pronto para fazer concessões.
A escalada de tensões em Idlib já fez fracassar os acordos concluÃdos entre os presidentes Putin e Erdogan em Sochi em 2018 para encerrar os combates nessa região e estabelecer uma zona desmilitarizada.
Também deu origem a acusações afiadas entre as duas capitais, que fortaleceram sua cooperação nos últimos anos na questão sÃria, apesar de seus interesses divergentes.
A Turquia acusou a Rússia de não respeitar os acordos de Sochi, que previam a garantia do status quo no terreno e a suspensão dos bombardeios em Idlib.
Em resposta, Moscou acusou Ancara de não cumprir sua parte dos compromissos e de não fazer nada para "neutralizar os terroristas" nesta região.
Neste contexto, a Turquia, que já abriga 3,6 milhões de sÃrios em seu território, exigiu na quarta-feira apoio europeu a "soluções polÃticas e humanitárias turcas na SÃria", essenciais, segundo Ancara, para estabelecer uma trégua e resolver a crise migratória.
A UE rejeitou a chantagem migratória de Ancara.
Na sexta-feira passada, Erdogan ordenou a abertura das fronteiras de seu paÃs e dezenas de milhares de pessoas se dirigiram para a Grécia, causando confrontos entre refugiados e policiais na fronteira grega. (Com agências internacionais)