Após um mês, terminou ontem, pelo menos provisoriamene, a crise política na região alemã da Turíngia, que ganhou repercussão em todo o país e desestabilizou, inclusive, o processo sucessório da chanceler Angela Merkel. Sem a ajuda dos conservadores, a esquerda derrotou a ultradireita e conseguiu reeleger Bodo Ramelow como chefe do governo do estado federado.
Ramelow, do partido Die Linke (A Esquerda), venceu Bjorn Höcke , candidato da Alternativa para a Alemana (AfD), graças ao apoio dos social-democratas do SPD e dos ambientalistas. Os conservadores da União Democrata-Cristã (CDU), legenda de Merkel, e os liberais do FDP se abstiveram.
No mês, a eleição do candidato do pequeno partido liberal FDP, apoiado pela CDU em coalizão com a AfD, causou um terremoto na Alemanha e, em particular, dentro do partido da chanceler, quebrando um tabu do pós-guerra. O líder liberal Mike Mohring teve que renunciar menos de 24 horas depois da vitória, mergulhando as instituições em paralisia.
Essa crise política acabou com o estratégia montada por Angela Merkel para sua sucessão. Pressionada, a pupila da chanceler, Annegret Kramp-Karrenbauer, renunciou à presidência do partido e ao governo.
A eleição de ontem por pouco não foi cancelada. Um deputado da CDU, potencialmente exposto ao coronavírus, teve que realizar testes, que deram negativo na terça-feira à noite. Caso contrário, a eleição teria sido adiada por um prazo indeterminado.
Com essa última ameaça dissipada, a eleição opôs Ramelow e Höcke, líder da ala mais radical da AfD, que está sob vigilância dos serviços de inteligência. Anti-imigrante, essa corrente do partido não hesita em questionar a cultura do arrependimento pelos crimes nazistas, a base da identidade alemã do pós-guerra.
Ramelow, que perdeu a maioria de esquerda nas eleições de outubro, recebeu, sem surpresa, o apoio dos social-democratas e ambientalistas. Ele próprio defendeu que os integrantes do partido de Angela Merkel se abstivessem de votar. A CDU sempre descartou endossar candidatos de extrema esquerda, devido, em parte, a seus supostos laços com o antigo regime da Alemanha Oriental. A falta desse apoio, porém, fez com que a eleição necessitasse de três turnos para alcançar uma definição.