A votação da Superterça ainda transcorria, mas, longe das urnas, aumentava a polarização entre os democratas. Antes mesmo do resultado, a campanha do senador progressista Bernie Sanders havia eleito o ex-vice-presidente Joe Biden como principal adversário na disputa para a escolha do nome que vai enfrentar o republicano Donald Trump nas eleições presidenciais de 3 de novembro.
Ante uma ascensão consistente de Biden, impulsionada pela desistência de dois concorrentes da ala moderada que imediatamente aderiram ao ex-vice de Barack Obama, o comitê de Sanders decidiu lançar mão de uma estratégia de ataques ao adversário, segundo a mídia dos EUA.
Sanders, Biden e outros três pré-candidatos participaram ontem da Superterça, realizada em 14 estados, além do território de Samoa Americana e dos eleitores que votam no exterior. A rodada de ontem é considerada decisiva no processo de escolha do adversário de Trump, pois envolvem 1.357 delegados — 34% do total (4.750). O número necessário para a indicação é 1.991. A convenção democrata, que anunciará o nome do candidato do partido, será em julho.
Projeções
Segundo as primeiras projeções divulgadas pelos meios de comunicação americanos, o moderado Biden venceu a Superterça nos estados da Virgínia, da Carolina do Norte, do Alabama, do Tennessee e de Oklahoma. Sanders, autodeclarado “socialista democrata”, triunfou em Vermont, estado pelo qual é senador.
A grande rodada de votação de ontem marcou a estreia do ex-prefeito de Nova York Mike Bloomberg nas urnas, enquanto a senadora Elizabeth Warren (Massachusetts) tentava ganhar força depois de performances sofríveis em Iowa, New Hampshire, Nevada e Carolina do Sul. O deputado Tulsi Gabbard (Havaí) também está na competição democrata.
Biden, que amargou um início bem abaixo do almejado, espera frear a ascensão de Sanders, que dominou as primárias iniciais. O otimismo aumentou nos últimos dias, depois que venceu na Carolina do Sul e da desistência do ex-prefeito Pete Buttigieg e da senadora Amy Klobuchar. Moderados, ambos formalizaram imediatamente apoio à campanha de Biden.
Os resultados dessa movimentação no tabuleiro político democrata não demoraram a surgir. Na primeira pesquisa nacional feita após as duas desistências, divulgada ontem pela Morning Consult, o ex-vice de Obama ultrapassou Sanders. O levantamento revelou que Biden cresceu mais de 10 pontos percentuais.
De acordo com a sondagem, Biden e Sanders estão com 36% e 28%, respectivamente. Em terceiro lugar, com 19%, surge o bilionário da comunicação Michael Bloomberg. A senadora Elizabeth Warren vem em quarto lugar, com 14%.
A pesquisa foi feita entre a tarde da segunda-feira e a manhã de ontem, tendo ouvido 961 eleitores das primárias democratas. A margem de erro é de quatro pontos percentuais. É o maior apoio registrado a Joe Biden em nível nacional desde junho do ano passado, quando ele era considerado o principal nome da corrida do partido.
Diferenças
De olho em toda a mobilização da ala moderada do partido, a equipe de Sanders começou a procurar grupos progressistas e políticos, na tentativa de atrair mais apoios. Também decidiu colocar em curso uma estratégia para destacar as diferenças entre o senador de Vermont e o ex-vice,de acordo com o jornal The New York Times.
A ideia consistiria em veicular anúncios nos principais estados que vão realizar primárias nos próximos dias 10 e 17, entre os quais Flórida, Michigan, Ohio e Arizona. O comitê do senador também fez circular um memorando entre os apoiadores que ressalta “os contrastes que esperamos destacar na Superterça e demais prévias”. “Agora, estamos entrando na fase das primárias em que as diferenças entre Bernie e Biden estarão no centro das atenções”, destaca o texto. “Essas diferenças deixam claro que a diferença entre esses dois candidatos é gritante”, complementa.
1.991
Total de delegados nescessários para que o pré-candidato seja indicado na convenção de julho
De olho na Casa Branca
Após a desistência do ex-prefeito Pete Buttigieg e da senadora Amy Klobuchar, restaram cinco pré-candidatos na
disputa do Partido Democrata pela indicação para enfrentar Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro.
Bernie Sanders
» O senador por Vermont, 78 anos, terminou a primária da Carolina do Sul, realizada no sábado, em segundo lugar, bem atrás de Joe Biden. Esse desfecho revigorou o ex-vice-presidente e reduziu sua liderança após as três primeiras votações em Iowa, New Hampshire e Nevada. O avanço de Sanders, autoproclamado “socialista democrático”, causou preocupação entre os moderados do partido, que advertem que ele, por suas políticas radicais, é um alvo fácil para Trump. “Estão ficando nervosos”, afirmou Sanders a seus simpatizantes durante um evento de campanha no domingo na Califórnia. Trump, que o chama de “Bernie louco” e já o classificou de “comunista”, diz que prefere disputar a eleição contra ele.
Joe Biden
» O ex-vice-presidente de Barack Obama, 77 anos, tem se mostrado orgulhoso da lealdade que conquistou de muitos eleitores negros, a exemplo do apoio obtido na Carolina do Sul. A vitória do pré-candidato no estado reduziu a preocupação com sua performance nos debates e seus resultados ruins nas três primeiras votações, que o deixaram em séria desvantagem em relação a Sanders. A vitória de Biden no estado sulista, no sábado, representou um estímulo para a campanha e provocou a desistência de três rivais, incluindo Pete Buttigieg e Amy Klobuchar, que competiam diretamente contra ele pelos votos moderados. “O país está faminto, faminto por estar unido”, declarou Biden, na segunda-feira, em Houston.
Michael Bloomberg
» Empresário bilionário do setor de comunicação, o ex-prefeito de Nova York, 78 anos, não participou das quatro primeiras votações e enfrentou pela primeira vez os rivais na Superterça. O magnata se concentrou na Califórnia, onde estava em jogo o maior número de delegados para a Convenção Nacional Democrata, e em outros estados importantes, como Virginia. Apesar da entrada tardia na disputa, Bloomberg pode se tornar um rival de peso, estimulado por um gigantesco orçamento de campanha, que ele financia com sua fortuna pessoal. O pré-candidato gastou quase US$ 500 milhões em publicidade, um valor recorde. Ele se apresenta como o que tem mais possibilidades de derrotar Trump.
Elizabeth Warren
» Com resultados decepcionantes nas três primeiras votações, a senadora progressista, 70 anos, tentou conseguir espaço com ataques efetivos contra Mike Bloomberg nos dois últimos debates. Mas Warren não conseguiu reverter a tendência na Carolina do Sul, onde amargou um quinto lugar. Em uma linha política próxima à de Sanders, a candidatura da senadora sofreu com o avanço do político radical e suas chances parecem cada vez menores. Ela, no entanto, mantém o compromisso de campanha e reservou anúncios de TV em pelo menos 11 estados que votaram na Superterça, incluindo Flórida, Michigan e Ohio.
Tulsi Gabbard
» Representante do estado do Havaí no Congresso, Tulsi Gabbard nunca figurou entre os principais pré-candidatos, mas decidiu manter a campanha. Aos 38 anos, defende uma política externa isolacionista e quer a saída das tropas norte-americanas do Iraque e da Síria. Em janeiro passado, apresentou uma ação contra a candidata presidencial democrata de 2016, Hillary Clinton, que afirmou que ele era um ativo russo” com o qual Moscou tentava dividir o eleitorado americano e ajudar Donaçd Trump a se reeleger no fim do ano.