Em discurso, ontem, o novo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, pediu que sejam excluídas ideologias no Mercosul. “Não deve importar a ideologia política de cada membro. Se deixarmos de lado essas questões ideológicas que podem nos diferenciar, o bloco vai se fortalecer no conjunto internacional”, disse o centro-direitista, que, com sua posse, encerrou 15 anos de governos de esquerda no país. As diferenças entre os presidentes brasileiro, Jair Bolsonaro, e o argentino, Alberto Fernández, pesam sobre o bloco econômico, formado também pelo Paraguai.
Após um compromisso de honra constitucional na Assembleia Legislativa e antes de seguir até a Praça Independência para receber a faixa presidencial das mãos de Tabaré Vázquez, Lacalle Pou repassou, em um discurso de 30 minutos, os temas que serão prioridade em sua gestão e anunciou medidas concretas.
Em um panorama econômico que classificou como “deteriorado”, e após citar que 150 mil uruguaios perderam o emprego, o novo presidente destacou a importância de agir sobre o custo dos serviços: “Temos um compromisso do qual não se pode fugir, de melhorar a qualidade e o preço dos serviços públicos, adequar os recursos humanos do Estado, gerar apoio direto às micro, pequenas e médias empresas”.
Lacalle Pou insistiu em sua promessa de campanha de cortar os gastos públicos para reduzir o deficit fiscal. “Todos sabemos que o cidadão já fez o esforço para sustentar os gastos públicos e o aparelho estatal. Este governo tem o compromisso de administrar de forma austera, cuidaremos de cada peso do contribuinte”, enfatizou, assinalando que vai impulsionar “uma verdadeira regra fiscal”. O presidente também incluiu no discurso o meio ambiente, garantindo que criará um ministério específico para o tema.
Um dos primeiros desafios de Lacalle será a aprovação da Lei de Urgente Consideração (LUC), com 457 artigos que tratam de questões como segurança, economia e educação. Esse projeto, que o Parlamento deve aprovar em até 90 dias, gerou protestos de vários setores e levou o sindicato dos professores a convocar uma greve para 12 de março.
O novo presidente também anunciou a intenção de implementar mudanças radicais na política externa. Para a posse, não convidou os presidentes de esquerda de Cuba, Nicarágua e Venezuela, cujo presidente, Nicolás Maduro, ele descreveu como “ditador”. Em contrapartida, contou com a presença dos presidentes direitistas do Brasil, da Colômbia, do Paraguai e do Chile, além do rei Felipe VI da Espanha, que Lacalle Pou recebeu no sábado com um churrasco em casa. O mandatário argentino, Alberto Fernández, declinou do convite, alegando que, no mesmo dia, abriria as sessões ordinárias do Congresso.