Em 48 horas, 14 estados norte-americanos protagonizarão um dos momentos mais aguardados da corrida presidencial norte-americana: a Superterça. Os candidatos democratas vitoriosos serão representados pelos delegados na Convenção Nacional do partido, em julho, na cidade de Milwaukee. Quem obtiver mais votos no evento enfrentará o republicano Donald Trump nas eleições de 3 de novembro. Considerada a “galinha dos ovos de ouro” das primárias, a Superterça é vista por especialistas como potencial momento de definição do pré-candidato democrata com mais chances de conquistar a maioria dos delegados. Califórnia, com 415 delegados, e Texas, com 228, são os dois estados-chave para se chegar perto da indicação.
O senador Bernie Sanders, 78 anos, lidera as pesquisas nos dois estados e surge como franco favorito. Joe Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama, se agarra à Superterça como se fosse uma tábua de salvação. A manutenção do fiasco visto em Iowa, Nevada e New Hampshire poderia minar apoio político e dilapidar sua candidatura. O bilionário Michael Bloomberg, um dos homens mais ricos do mundo e ex-prefeito de Nova York, surge como incógnita em sua estreia nas eleições. Pete Buttigieg, ex-prefeito de South Bend (Indiana) e homossexual assumido, tenta repetir a façanha de Iowa e se oxigenar para almejar a indicação. A senadora Elizabeth Warren ainda não emplacou e pode ter oportunidade de provar ser um nome de peso para confrontar Trump e se tornar a primeira mulher a comandar os Estados Unidos.
Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), afirmou ao Correio que a Superterça é muito importante pelo volume de delegados em disputa: mais de 1.300. “Pela forma de disputa, o pré-candidato que alcançar 1.991 delegados na Convenção Nacional Democrata, durante a primeira rodada de votação, pode ser declarado o escolhido”, explicou. “Por outro lado, a Superterça é o instante em que se conhece melhor os perfis de eleitores que se posicionam com o voto, como aqueles que têm votos expressivos de latinos, de mulheres ou de negros.”
Segundo Holzhacker, com o conjunto de primárias da terça-feira, será possível mensurar como o perfil socioeconômico afetará a disputa dentro do partido. “O peso eleitoral de Califórnia e Texas e a diversidade de eleitores são testes importantes para as campanhas. Aqueles que não conseguirem bom desempenho eleitoral, provavelmente, terão mais dificuldade para manter o apoio e a estrutura, a fim de seguirem nas fases seguintes”, observou.
Apesar de reconhecer a importância de Califórnia e Texas, Robert Henry Cox, professor de ciência política da Universidade da Carolina do Sul, lembrou que a maioria das disputas ocorre em estados que tendem ao voto democrata (azuis) ou republicanos (vermelhos). “No entanto, acho que algumas das mais interessantes primárias ocorrerão nos estados ‘roxos’, aqueles que, muitas vezes, apoiam os democratas, mas em 2016 avalizaram Trump: Michigan (10 de março), Flórida e Ohio (17 de março), Wisconsin (7 de abril) e Pensilvânia (28 de abril). Creio que esses decidirão o próximo presidente. O democrata que vencer nesses estados terá melhor posição para derrotar Trump”, disse Cox.
Ameaças
Professor de ciência política da Universidade do Texas, em Austin, Daron Shaw vê uma evolução de Bernie Sanders nas pesquisas nacionais, além de na Califórnia e no Texas. “Biden e Bloomberg são as principais ameaças ao senador, mas ambos dividem, atualmente, muitos dos votos de oposição a Bernie”, ponderou. Por sua vez, Thomas Whalen, especialista em presidência americana pela Universidade de Boston (em Massachusetts), sublinha que a Superterça é realmente o instante em que as nomeações democratas são decididas. Isso porque, por serem estados bastante diversos em termos populacionais, Texas e Califórnia funcionam como um termômetro para o restante das primárias e para as eleições presidenciais.
De acordo com Whalen, o ímpeto de Sanders poderá perder gás na Superterça. “O senador precisará demonstrar que goza de amplo apelo entre os eleitores não brancos e geralmente jovens. As disputas nos 14 estados da Super Terça são tudo, mas a surdez de retórica demonstrada por Sanders para a comunidade afro-americana tornará muito desafiador para ele apresentar boa exibição”, comentou Whalen. “Ao contrário de Iowa e de New Hampshire, com populações brancas homogêneas, a Superterça representa como é o Partido Democrata e como os EUA realmente se parecem no século 21.”