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Confrontos religiosos matam 33 e ferem 200





Os confrontos entre nacionalistas hindus e muçulmanos, que se arrastam por cinco dias, deixaram 33 mortos em Nova Délhi, capital da Índia. Apesar dos pedidos do primeiro-ministro, Narendra Modi, por paz e fraternidade, a violência persiste. O principal hospital situado na área dos confrontos recebeu 30 corpos, todos com lesões  provocadas por tiros. Outro hospital de Délhi registrou três mortes ligadas aos choques, segundo a agência de notícias France-Presse. O número de feridos chega a 200.

Munidos de pedras, facas e armas de fogo, hindus provocaram o caos nas regiões periférias de maioria muçulmana ao nordeste da capital. Testemunhas relataram que os agressores gritavam “Jai Shri Ram” (“Viva o Deus Rama”). Os protestos foram deflagrados depois da aprovação da nova lei de cidadania, a qual é visto como dscriminatória em relação aos muçulmanos. O texto simplifica a concessão de cidadania aos refugiados sob a condição de que não sejam muçulmanos.

Para Fausto Godoy, ex-diplomata e professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o atual conflito religioso faz parte da própria história da Índia, uma nação multiétnica e religiosa. Ele explica ao Correio que os hindus representam 80% da população, enquanto os muçulmanos, 15% — ou 250 milhões de pessoas. “Os muçulmanos chegaram à Índia no século 11. A partir do século 16, o país foi dominado por uma monarquia muçulmana. Entre 1857 e 1947, a Índia fez parte do Império Britânico. Na ocasião da independência, em 1947, duas regiões estavam consolidadas com forte presença muçulmana: o noroeste e o centro, que concentram os espaços de tensão atuais. Desde a eleição de Narendra Modi, em 2014, tem existido um crescimento grande do nacionalismo hindu e extrema-direita”, observou o estudioso da ESPM.

De acordo com Godoy, Modi integra um movimento, dentro de seu Partido do Povo Indiano, que prega a supremacia do hinduísmo na Índia. “O problema está no fato de a Índia ser um Estado laico, multiétnico e multilingual, de acordo com a sua Constituição. Até 2014, o Partido do Congresso — que liderou o processo de independência — esteve no poder e defendia o laicismo. No entanto, Modi pertence a outro partido”, lembrou. O professor acredita que a única forma de garantir a unidade da nação é por meio da convivência pacífica de todos.  “Isso não tem ocorrido. A lei da cidadania é um exemplo disso. Ela dá direito a asilo a todas as religiões, à exceção dos muçulmanos. O que ocorre é que são os próprios muçulmanos que compõem o maior grupo de refugiados do país. Esse movimento, legal, tem muito a ver com a elevação de tensões na Caxemira”, acrescentou Godoy, que morou durante cinco anos na Índia. (RC)



Eu acho...
“O premiê Narendra Modi é um sucesso político e econômico e conta com o apoio de grande parte da população. No entanto, os últimos movimentos têm levado ao início de movimentos de resistência ao chefe de governo não somente entre os muçulmanos, mas entre os próprios hindus. A existência da Índia, como a conhecemos, somente é possível com um Estado Laico. Esses confrontos são endêmicos na história da Índia, mas não ocorriam dessa forma havia algum tempo.”

Fausto Godoy, ex-diplomata e professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)