Embora o dióxido de carbono (CO2) seja sempre associado às mudanças climáticas, um outro gás tem grande participação no efeito estufa. Em 300 anos, desde a Revolução Industrial, as emissões do metano cresceram 150%, e boa parte disso tem sido atribuída a processos naturais. Contudo, em um estudo publicado na revista Nature, pesquisadores da Universidade de Rochester, no Canadá, afirmam que as emissões por atividades humanas têm sido largamente subestimadas.
Benjamin Hmiel, professor de ciências da terra e do meio ambiente da instituição e principal autor do estudo, explica que o metano é emitido na atmosfera de duas formas, que podem ser identificadas por meio da presença de carbono-14. O gás de origem fóssil foi sequestrado por milhões de anos em antigos depósitos de hidrocarbonetos e não contém mais carbono-14 porque o isótopo decaiu. Já o biológico — liberado naturalmente em zonas úmidas ou por meio de fontes antropogênicas, como aterros, campos de arroz e gado — contém carbono-14.
O primeiro foi o alvo dos estudos de Hmiel. Ele explica que o metano fóssil pode ser emitido devido a infiltrações geológicas naturais ou como resultado da extração e do uso de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão, por seres humanos. O cientista explica que é possível quantificar com precisão a quantidade total do gás liberado para a atmosfera a cada ano, mas é difícil determinar quais porções se originam de fontes fósseis e quais são biológicas. Outra questão é definir quanto metano é liberado naturalmente e quanto pela atividade humana.
Para definir com mais precisão os componentes naturais e antropogênicos, Hmiel e os outros pesquisadores se voltaram para registros históricos. Eles perfuraram e coletaram núcleos de gelo da Groenlândia. As amostras do núcleo de gelo são como cápsulas do tempo: elas contêm bolhas com pequenas quantidades de ar antigo preso no interior. Os pesquisadores usam uma câmara de fusão para extraí-lo das bolhas e, depois, estudam sua composição química.
Na pesquisa, Hmiel concentrou-se em medir a composição do ar desde o início do século 18 — antes da Revolução Industrial — até os dias atuais. Os seres humanos não começaram a usar combustíveis fósseis em quantidades significativas até meados do século 19. Medir os níveis de emissão antes desse período permite identificar as emissões naturais presentes na atmosfera atual. Segundo o pesquisador, não há evidências de que as liberações naturais de metano fóssil possam variar ao longo de alguns séculos.
Combustíveis fósseis
Medindo os isótopos de carbono-14 no ar há mais de 200 anos, os cientistas descobriram que quase todo o metano emitido para a atmosfera era de natureza biológica até cerca de 1870. Foi quando o componente fóssil começou a subir rapidamente. O momento coincide com um aumento acentuado no uso de combustíveis fósseis.
Os níveis de metano fóssil liberado naturalmente são cerca de 10 vezes menores do que as pesquisas anteriores relatadas. Considerando as emissões totais de fósseis medidas hoje na atmosfera, Hmiel deduz que o componente fóssil produzido pelo homem é mais alto do que o esperado — de 25% a 40% maior.
Hmiel observa que o metano é o segundo maior fator antropogênico que contribui para o aquecimento global, depois do dióxido de carbono. Mas, comparado ao CO2 e a outros gases que capturam calor, ele tem prazo de validade relativamente curto; dura uma média de apenas nove anos na atmosfera, enquanto o dióxido de carbono, por exemplo, pode persistir por cerca de um século.
O cientista afirma que justamente por isso o metano deveria ser um alvo importante para se tentar reduzir os níveis de emissão em curto prazo. “Se parássemos de emitir todo o dióxido de carbono hoje, altos níveis de CO2 na atmosfera ainda persistiriam por um longo tempo. O metano é importante para estudar porque, se fizermos alterações em nossas atuais emissões, elas terão consequências mais rapidamente.”
Em nota, um dos coautores, Vasilii Petrenko, afirmou que os dados têm implicações importantes para a pesquisa climática. “Se as emissões antrópicas de metano compõem uma parte maior do total, a redução de emissões de atividades humana, como a extração e o uso de combustíveis fósseis, terá um impacto maior sobre o aquecimento global futuro do que os cientistas pensavam anteriormente”.
"Se parássemos de emitir todo o dióxido de carbono hoje, altos níveis de CO2 na atmosfera ainda persistiriam por um longo tempo. Se fizermos alterações em nossas atuais emissões (de metano), elas terão consequências mais rapidamente”
Benjamin Hmiel,
professor da Universidade de Rochester e principal autor do estudo