Mundo

Tensão entre Turquia e Rússia

Decisão de Erdogan de realizar uma ofensiva militar em Idlib, nas próximas semanas, deixa Ancara e Moscou, aliada de Damasco, em campos opostos. Diante da estagnação das negociações, Kremlin adverte que operação seria %u201Co pior cenário%u201D





A determinação do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, de deflagrar uma ofensiva militar em Idlib, noroeste da Síria, provocou ontem uma forte tensão entre Ancara e Moscou, que se opõe à medida. Em discurso no Parlamento, Erdogan reiterou seu ultimato ao regime de Bashar al-Assad para que retire suas forças, antes do fim do mês, de uma estrada estratégica e dos arredores de postos de observação turcos na cidade síria. “A operação em Idlib é iminente. Estamos em contagem regressiva. São as últimas advertências”, insistiu.

O alerta ocorre no momento em que as conversas entre Turquia e Rússia, que apoia Al-Assad, estagnaram. De Moscou, o governo de Vladimir Putin reagiu com veemência. “Trata-se de uma operação contra o poder legítimo da República síria e das Forças Armadas da República sírias, o que seria, sem dúvida, o pior cenário”, advertiu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

“Infelizmente, nem as conversas realizadas no nosso país e na Rússia, nem as negociações no terreno nos permitiram chegar ao resultado que desejamos”, admitiu Erdogan, acrescentando: “Estamos muito longe do ponto que queremos alcançar, é um fato. Mas as conversas (com os russos) continuarão.”

A situação foi discutida na reunião mensal do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O emissário da ONU para a Síria, Geir Pedersen, alertou para o risco elevado de escalada de tensão na região. “Não posso informar de nenhum avanço para dar fim à violência no noroeste (sírio) ou retomar o processo político”, lamentou.

Moscou se opôs à adoção no Conselho de Segurança da ONU de uma declaração para pedir o fim das hostilidades e o respeito ao direito internacional humanitário no noroeste da Síria, impulsionada pelo governo francês. “A Rússia disse que não”, declarou Nicolas de Rivière, o representante  da França. “Não há declaração”, confirmou seu homólogo belga, Marc Pecsteen de Buytswerve, presidente em exercício do Conselho.

Ataques

Apoiadas pela aviação russa, as forças de Damasco realizam nas últimas semanas um duplo ataque para recuperar Idlib, último bastião rebelde e jihadista. No início do mês, as tensões aumentaram depois que soldados turcos estacionados na cidade, no âmbito de um acordo entre Ancara e Moscou, morreram em bombardeios sírios.

Em paralelo às advertências, a Turquia vem mobilizando há vários dias importantes reforços militares na região. “Fizemos todos os nossos preparativos para poder aplicar nossos próprios planos”, disse Erdogan no discurso aos parlamentares. “Estamos decididos a fazer de Idlib uma região segura para a Turquia e para a população local, a qualquer custo”, afirmou.

Apesar de interesses divergentes, Ancara e Moscou cooperam estreitamente na Síria desde 2016, sem atritos. Em 2018, os dois países alcançaram um acordo em Sochi (sul da Rússia), no intuito de silenciar as armas. A situação de Idlib, porém, mudou o cenário.