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Brasil apoia plano de paz dos EUA

Em nota, Itamaraty afirma que proposta apresentada por Trump "contempla aspirações tanto de palestinos quanto de israelenses" e exorta os dois povos a iniciarem negociações. Embaixador israelense elogia postura brasileira e vê chance única



O governo brasileiro elogiou “o plano de paz e prosperidade” apresentado na terça-feira pelos Estados Unidos e afirmou que a proposta para o Oriente Médio “configura uma visão promissora para, após mais de sete décadas de esforços infrutíferos, retomar o caminho rumo a tão desejada solução do conflito israelense-palestino. O comunicado divulgado ontem pelo Ministério das Relações Exteriores classifica o plano do presidente Donald Trump como “um documento realista e ao mesmo tempo ambicioso”. “Trata-se de iniciativa valiosa que, com a boa vontade de todos os envolvidos, permite vislumbrar a esperança de uma paz sólida para israelenses e palestinos, árabes e judeus, e para toda a região”, afirma.

Segundo a nota do Itamaraty, a visão detalhada pelo plano de Trump “contempla aspirações tanto de palestinos quanto de israelenses, incluindo aspectos fundamentais, como a erradicação do terrorismo, a existência do Estado de Israel com segurança para a sua população, o estabelecimento de um Estado palestino democrático e comprometido com a paz, a viabilidade territorial, e a criação das condições econômicas indispensáveis para uma grande elevação do bem-estar do povo palestino”.

O Brasil exortou os dois lados a considerarem o plano “com toda a seriedade” e a iniciarem negociações a partir das bases expostas no documento. O Itamaraty também destacou que a proposta da Casa Branca se mostra compatível com os princípios constitucionais que regem a atuação externa do Brasil, ao citar a defesa da paz, o repúdio ao terrorismo e a autodeterminação dos povos. “O Brasil está pronto a contribuir com o processo de construção da paz, das maneiras que se afigurarem mais adequadas”, conclui o comunicado.

Em entrevista ao Correio, Yossi Shelley (leia Três perguntas para), embaixador de Israel em Brasília, disse que a nota do Itamaraty é positiva tanto para israelenses quanto para palestinos. “Como afirma o documento, agora existe uma oportunidade única de finalmente alcançar a paz no Oriente Médio — uma solução baseada na realidade e não em meras fantasias”, declarou. “Nós saudamos o Brasil por refletir seus valores constitucionais de promover a paz e resistir a todas as formas de terrorismo em sua política externa. É a primeira vez que os países árabes apoiam o processo abertamente e se alinham com Estados Unidos,  Brasil, Reino Unido e outras grandes nações; incentivando, assim, os palestinos a darem os bravos passos necessários para a paz.”

Pouco antes da divulgação do comunicado do Itamaraty, Shelley foi recebido no Palácio do Planalto pelo presidente, Jair Bolsonaro, e pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em uma audiência marcada com antecedência. O Correio apurou que o plano de Trump dominou o encontro. Shelley apresentou a Bolsonaro os principais pontos da proposta de paz para o Oriente Médio e agradeceu ao presidente por manifestações no Twitter sobre a matança dos judeus pelos nazistas. “O Brasil constrói amizade sem precedentes com Israel e com o povo judeu. Trabalhamos para combater o antissemitismo, que, muitas vezes, se esconde por trás do antissionismo”, escreveu o presidente, no 75º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz. Bolsonaro e Shelley enalteceram a amizade entre as duas nações.

Condições
Fontes diplomáticas israelenses destacaram que o plano de Trump não é favorável ao Estado judeu. Segundo elas, Israel também faria concessões territoriais. Pelos termos da proposta, os palestinos teriam direito a um Estado, mas sob condições. Eles devem reconhecer Israel como o “Estado judaico”, “rechaçar o terrorismo em todas as suas formas” e fortalecer suas instituições. A Palestina seria desmilitarizada; os EUA reconheceriam a anexação de Israel dos assentamentos na Cisjordânia; a expansão das colônias seria congelada por quatro anos e Jerusalém seguiria como capital indivisível do povo judeu.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, expressará repúdio ao plano de Trump na tribuna do Conselho de Segurança da ONU, dentro de duas semanas. Países árabes aliados de Washington acolheram a proposta. A Arábia Saudita “aprecia os esforços” dos EUA, ao mesmo tempo que renova seu “apoio inabalável” aos palestinos. Os Emirados Árabes Unidos veem um “importante ponto de partida”. O Catar deu boas-vindas ao plano e destacou que “o Estado palestino é a capital de Jerusalém Oriental”. A Jordânia lembrou que “o único caminho para a paz” é um Estado palestino que obedeça às fronteiras de 1967.




Três perguntas para

Yossi Shelley,
embaixador de Israel em Brasília

Como o senhor analisa as críticas de que o plano só beneficia Israel?
Esses críticos claramente não leram o plano. É exigido que Israel renuncie a grandes partes do território no sul do país em troca dos territórios que obterá na Judeia e Samaria (Cisjordânia). Israel terá que conceder acesso a seus portos marítimos de Haifa e Ashdod, ao contrário dos palestinos. Israel concordou em fazer concessões imediatas e congelar toda a construção nos referidos territórios, enquanto os palestinos têm quatro anos para considerar o plano. Israel terá que conceder passagem livre entre todos os territórios palestinos, apesar dos riscos à segurança.  O acordo não arranca ninguém de suas casas — em concordância com o espírito de paz e coexistência.

O senhor acredita que o plano de paz possa ser aceito pelos palestinos e implementado efetivamente?
Claro. Trump prometeu ajudar os palestinos em todas as etapas do caminho para o Estado. Ele prometeu US$ 50 bilhões para revolucionar a economia, adicionar 1 milhão de empregos e triplicar o PIB. Isso é uma enorme indicação para um potencial de sucesso e uma razão para que todos os palestinos que querem melhorar suas vidas incentivem sua liderança a aderir ao plano de paz.

Há interesse de Israel em anexar os assentamentos da Cisjordânia?
O acordo aborda a raiz do conflito, enfatizando que os palestinos devem reconhecer Israel como o Estado judeu (o direito de autodeterminação do povo judeu). O plano reconhece a soberania de Israel sobre áreas de Judeia e Samaria, vitais para a segurança. Estipula que Israel manterá controle de segurança a oeste do Rio Jordão. Sobre os assentamentos, a solução reflete uma realidade de paz, na qual as comunidades vivam uma ao lado da outra pacificamente. (RC)