O governo britânico decidiu nesta terça-feira (28/1) conceder acesso limitado à sua rede 5G aos fabricantes de equipamentos de telecomunicações "de alto risco", a saber, o grupo chinês Huawei, que imediatamente disse estar "tranquilizado".
Londres estava sob forte pressão americana para excluir a Huawei, uma vez que Washington acusa a gigante chinesa de espionar em nome de Pequim.
O governo britânico acabou decidindo, como havia sugerido nos últimos dias, que limitará o acesso de fabricantes de "alto risco" às suas redes 5G, mas não as excluiria.
Em uma declaração que não menciona claramente a Huawei emitida após uma reunião do Conselho de Segurança Nacional presidida pelo primeiro-ministro Boris Johnson, o Ministério da Cultura, Mídia e Digital anunciou que atores de "alto risco" serão "excluídos de partes sensíveis do coração da rede 5G" e estarão sujeitos a um limite de 35% em sua participação em partes não estratégicas.
"Os ministros concordaram que as operadoras britânicas devem estabelecer salvaguardas adicionais e excluir provedores de alto risco de certas partes de suas redes de telecomunicações que são críticas para sua segurança", afirma o comunicado.
Portanto, esses fabricantes de equipamentos serão "excluídos de toda a infraestrutura crucial para a segurança nacional, de funcionalidades centrais e sensíveis da rede, de áreas geográficas sensíveis, em especial perto de locais nucleares e bases militares, e com uma participação" limitada a 35% na rede periférica.
Em um comunicado em separado, a Huawei disse estar "tranquilizada pela confirmação do governo britânico de que podemos continuar trabalhando com nossos clientes para continuar a implantação do 5G".
A gigante chinesa de telecomunicações está presente nas redes britânicas há 15 anos, principalmente nas infraestruturas 4G da Vodafone e da BT.
As operadoras de telecomunicações disseram que excluir a Huawei seria caro e atrasaria a migração para o 5G.
Pressão dos EUA
Os Estados Unidos têm exigido que muitos países europeus, em particular o Reino Unido, excluam a Huawei de suas redes, acusando o grupo de manter laços estreitos com o governo chinês e alertando para o risco de espionagem. A Huawei sempre rebateu essas acusações.
Ao autorizar sua participação, mesmo que limitada, Johnson corre o risco de irritar Washington em um momento em que o Reino Unido espera fortalecer seus laços bilaterais, tendo em vista as negociações para um ambicioso acordo comercial após o Brexit.
As autoridades americanas não pouparam esforços para tentar fazer com que Londres cumprisse suas exigências, entre reuniões a portas fechadas e avisos do secretário de Estado Mike Pompeo, que chamou a iminente decisão britânica de "fundamental".
O próprio Johnson falou ao telefone na sexta-feira com o presidente Donald Trump.
Este mês, o primeiro-ministro já havia avisado que existem poucas alternativas à Huawei, dada a sua vantagem tecnológica sobre suas concorrentes.
Além disso, se o grupo chinês fosse excluído, seria necessário eliminar suas estações base da infraestrutura 4G existente, o que seria oneroso e impactaria as contas dos clientes, além de atrasar a migração para o 5G.
Os serviços de segurança britânicos garantiram que é possível trabalhar com a fabricante chinesa sem comprometer a segurança.
Ainda assim, a abertura para a Huawei preocupa alguns no Parlamento de Westminster e dentro do governo.
Enquanto o ministro das Finanças, Sajid Javid, posicionou-se a favor, outros pesos pesados, como o ministro do Interior, Priti Patel, e o ministro da Defesa, Ben Wallace, foram contrários.
Austrália e Japão seguiram o exemplo dos Estados Unidos proibindo a Huawei, mas os países europeus parecem divididos.
Já a maioria dos grandes mercados emergentes, liderados pelo Brasil e pela Índia, está abrindo os braços para a fabricante chinesa.