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Defesa de Trump rebate revelações de Bolton

As revelações aumentam a pressão contra os republicanos no Senado para que aceitem receber ex-conselheiro de Segurança Nacional como testemunha durante o julgamento de impeachment do atual presidente americano

Os advogados de Donald Trump tentaram na segunda-feira 27/1 contra-atacar as explosivas revelações de John Bolton, ex-conselheiro da Casa Branca, que complicaram a defesa do presidente dos Estados Unidos no julgamento de impeachment no Senado.

Também iniciaram um ataque ao ex-vice-presidente Joe Biden, alegando que o pedido de Trump à Ucrânia para que investigasse o possível rival na eleição presidencial de 3 de novembro foi motivada por suspeitas de corrupção.

As revelações aumentam a pressão contra os republicanos no Senado para que aceitem receber ex-conselheiro de Segurança Nacional como testemunha durante o julgamento de impeachment do atual presidente americano, algo que os democratas têm insistido em pedir às partes julgadoras para ser acatado. 

Segundo informou o jornal "The New York Times" no último domingo (26), Bolton escreveu que o presidente lhe revelou que a ajuda militar à Ucrânia seria liberada somente após Kiev investigar o potencial rival eleitoral do magnata americano para as próximas eleições americanas, marcadas para novembro deste ano, o democrata Joe Biden. 

Trump é acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso por causa do escândalo ucraniano. No caso, ele é acusado de pressionar Kiev a investigar Joe Biden e obstruir a Justiça por ter tentado impedir a investigação.  

"O abuso de poder é uma arma política e deve ser usado contra oponentes políticos", disse Alan Dershowitz, um dos advogados de Trump. 

O constitucionalista foi além do argumento principal da Casa Branca, segundo o qual não houve pressão sobre Kiev ou "quid pro quo", uma estratégia enfraquecida pelas novas acusações de Bolton.

"O quid pro quo por si só não é uma base para abuso de poder, faz parte da política externa conduzida pelos presidentes desde o início dos tempos", disse. 

"Nada nas revelações de Bolton, mesmo que sejam verdadeiras, equivaleria ao nível de abuso de poder ou a uma ofensa que mereça um impeachment", completou.

Bolton relata que compartilhou com o secretário de Justiça, Bill Barr, sua preocupação de que Trump estava concedendo favores a líderes autoritários.

Trump negou ter dito a Bolton que a ajuda militar à Ucrânia estivesse condicionada à investigação de Kiev sobre os seus rivais políticos.  

"NUNCA disse a John Bolton que a ajuda (militar) à Ucrânia estava vinculada a investigações aos democratas, incluindo Biden. De qualquer forma, ele nunca comentou sobre isso desde a sua demissão", escreveu Trump em seu Twitter, na manhã desta segunda-feira.  

"Se John Bolton disse isso, foi só para vender um livro".

Citando o manuscrito inédito de Bolton, o New York Times escreveu que Trump teria dito a Bolton que congelaria US$ 391 milhões em ajuda militar à Ucrânia até que a Inteligência de Kiev o ajudasse em uma investigação sobre Biden e seu filho Hunter, que fez parte da diretoria de uma empresa de gás ucraniana.  

"Não vi o manuscrito", afirmou Trump aos jornalistas quando questionado sobre o livro de Bolston, que foi enviado à Casa Branca para obter uma autorização de segurança.  

As revelações de Bolton parecem ter balançado a maioria republicana no Senado, cujos 53 legisladores até agora se negam a admitir testemunhas no julgamento, como desejam os democratas.

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Os republicanos têm 53 das 100 cadeiras no Senado e são necessários 67 votos - maioria de dois terços - para destituir Trump, mas só é necessário uma maioria simples - o que implicaria ao menos quatro votos republicanos - para dar luz verde ao testemunho de Bolton e de outros altos funcionários solicitados pelos democratas.

Ao menos três moderados, Mitt Romney, Susan Collins e Lisa Murkowski, deram a entender que poderiam votar a favor do depoimento de Bolton.

Mitt Romney afirmou à imprensa que "é cada vez mais aparente que seria importante escutar John Bolton". 

"Acredito que é cada vez mais provável que outros republicanos se unam aos que acreditamos que deveríamos ouvir John Bolton", reforçou.

Starr, defensor de Trump 

As alegações da defesa do presidente começaram com uma revisão de Ken Starr, que liderou a investigação do impeachment contra Bill Clinton em 1998, sobre processos de destituição do passado.

Starr argumentou que este esforço por expulsar Trump da Casa Branca era inconstitucional porque, diferentemente dos casos dos presidentes Richard Nixon e Clinton, os artigos de acusação não representam um crime real.

Acrescentou que tanto no caso de Nixon como no de Clinton existia um acordo bipartidário entre republicanos e democratas para destituir ao presidente. Clinton foi absolvido e Nixon renunciou à Presidência em 1974 antes de ser submetido a julgamento.

"O impeachment deve ser bipartidário por natureza", argumentou e parafraseou os advogados da Casa Branca quando disseram que compete aos eleitores, não ao Congresso, decidir nas eleições de novembro se deve continuar ou não no governo.

O surgimento de Starr despertou comentários cáusticos da senadora Claire McCaskill, entre outros.

"Estou aqui coçando a cabeça", disse McCaskill. "Trazem o advogado que acreditou que uma infidelidade era razão para um impeachment para argumentar que a retenção de ajuda militar urgente a um aliado que está em guerra com nosso inimigo em troca de um favor político não é".

"Se não fosse tão irritante, seria muito engraçado", disse.

No começo das alegações no sábado, o advogado da Casa Branca, Pat Cipollone, disse que Trump "não fez absolutamente nada de errado".

Segundo a defesa, a retenção da ajuda não foi vinculada ao pedido de investigação de Biden, algo que as revelações do manuscrito de Bolton contradizem.

"Indefensável" 

Na semana passada, os acusadores da Câmara de Representantes apresentaram suas alegações contra o presidente, nas quais detalharam como Trump reteve a ajuda militar e celebrou uma reunião na Casa Branca para pressionar Kiev a iniciar uma investigação sobre os Biden.

Os democratas aproveitaram rapidamente o informe para reiterar as demandas para que Bolton e outros altos funcionários do governo Trump sejam chamados a depor no julgamento de destituição de Trump.

A presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, disse que a negativa da maioria republicana no Senado a ouvir o depoimento de Bolton e outras testemunhas é "inclusive agora mais indefensável".

Se o Senado enviar finalmente uma convocação a Bolton para depor, é provável que a Casa Branca se defenda atrás dos privilégios executivos para tentar mandar o assunto a uma corte e impedir que apresente seu depoimento.

Bolton, que foi demitido em setembro após 17 meses como assessor de Segurança Nacional, disse que estava pronto para depor no Senado.