O astro do basquete Kobe Bryant, falecido no domingo (26/1) vítima de um acidente de helicóptero, acumulou uma fortuna graças a seu talento dentro das quadras e algumas boas decisões financeiras, mas um escândalo em 2003 e uma personalidade complexa o impediram de chegar ao patamar nos negócios de seu ídolo, Michael Jordan.
Durante toda a carreira esportiva, Kobe Bryant sempre teve o mesmo objetivo. "As pessoas não entendem o quanto eu sou obcecado pela vitória", declarou em entrevista em 2013.
O "Mamba Negra", um de seus muitos apelidos, falava na ocasião sobre seu instinto matador dentro de quadra, mas seu espírito competitivo não se contentava apenas com troféus.
Em relação a salário, depois de compartilhar os holofotes no Los Angeles Lakers durante oito temporada com o pivô Shaquille O'Neal e aceitar uma remuneração menor em troca da brigar por títulos, Kobe logo exigiu o que merecia.
No total, recebeu 323 milhões de dólares em 20 temporadas, o segundo maior valor da história da NBA, ficando atrás apenas de Kevin Garnett (334).
Fora das quadras, o cestinha insaciável se deu ainda melhor, recebendo cerca de 360 milhões de dólares em contratos publicitários durante a carreira de atleta (até 2016), segundo a revista Forbes.
No centro desta plataforma idealmente localizada em Los Angeles, capital mundial do entretenimento, estava a gigante fornecedora de material esportivo Nike, com a qual Kobe assinou em 2003, depois de uma aventura abortada com a Adidas.
Mesmo aposentado, a empresa americana pagou a Kobe 16 milhões de dólares no ano passado, segundo a Forbes, mais que qualquer outro jogador de basquete em atividade, com exceção de LeBron James e Kevin Durant.
Contudo, a colaboração Kobe-Nike não começou com o pé direito, já que alguns dias depois da assinatura do contrato o jogador foi preso no Colorado acusado de estupro por uma funcionária de um hotel.
O caso acabou não indo a julgamento, já que a suposta vítima se recusou a testemunhar contra Kobe, mas a reputação do camisa 24 dos Lakers ficou manchada de maneira duradoura com o caso.
Em meio ao escândalo, a franquia de restaurantes McDonald's, um de seus patrocinadores, cortou os vínculos com Kobe, assim como a italiana Nutella.
Negócio da China
Kobe assinou outras alianças comerciais com o passar do tempo, como com a companhia aérea Turkish Airlines ou com a fabricante de computadores Lenovo, mas sua imagem não se recuperou completamente da acusação de estupro.
A Nike, conhecida pela lealdade a seus atletas, manteve a confiança em Kobe e, a partir da temporada 2005-2006, lançou a cada ano um novo par de tênis com seu nome.
Mas nos Estados Unidos e no Ocidente, o astro, embora amplamente considerado um dos maiores jogadores da história da NBA, nunca chegou à altura de Michael Jordan, referência absoluta no que diz respeito ao sucesso no marketing e nos negócios entre atletas.
O motivo principal que prejudicou Kobe nesse quesito foi sua personalidade individualista e às vezes distante, o que tornou o astro do Lakers menos atrativo do que jogadores como LeBron James e Jordan para o público em geral.
Interessado em negócios, mais aberto ao mundo do que muitos outros atletas americanos por ter vivido na infância na Itália, Kobe Bryant não esperou o fim da carreira para ampliar seus horizontes.
Foi um dos primeiros jogadores a entender o potencial do mercado chinês, no início dos anos 2000.
Graças a numerosas visitas, a propagandas direcionadas exclusivamente para este mercado e a várias outras iniciativas, em particular humanitárias, Kobe se tornou uma lenda na China.
Suas camisas, sapatos e os produtos que promovia lá esgotavam em dias, o que lhe valeu uma arrecadação significativa.
O cinco vezes campeão da NBA foi também um dos pioneiros de uma nova geração de atletas que se via como investidores e não somente como veículos publicitários.
Em 2014, comprou 10% das ações da fabricantes de bebidas energéticas BodyArmor por 6 milhões de dólares. Quatro anos depois, estas mesmas ações se valorizaram em 200 milhões de dólares após a entrada no capital da Coca-Cola.
Através de seu fundo de investimento, Bryant Stibel, Kobe também adquiriu participações na plataforma esportiva The Players Tribune e na desenvolvedora de jogos Epic Games.
Também fez um notável investimento na produção cinematográfica com o curta animado "Dear Basketball", escrito por ele e que ganhou um Oscar em 2018.
Com sua imagem se tornando cada vez mais positiva e o desejo expresso de seguir participando positivamente do mundo do basquete, Kobe Bryant tinha como certo continuar sendo um símbolo de seu esporte e um objeto de desejo dos patrocinadores.