O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vê-se como um "rei" e abusou "de forma flagrante" do poder para obter vantagens políticas - afirmou a oposição democrata na quinta-feira (23/1), segundo dia de argumentos contra o republicano no julgamento político em curso no Senado.
Os democratas da Câmara de Representantes que atuam como procuradores apresentaram a prova do primeiro dos dois artigos, pelos quais Trump é acusado, desmantelando as afirmações dos correligionários do presidente de que não fez nada de errado ao pedir ajuda eleitoral à Ucrânia no ano passado.
Diante dos 100 senadores que representam membros do júri, os procuradores reproduziram antigos vídeos. Neles, dois dos defensores mais próximos de Trump disseram que o abuso de poder é um crime claro e flagrante, minando um argumento-chave da Casa Branca de que a Constituição dos Estados Unidos requer um delito específico para destituir um presidente.
"O presidente Trump usou os poderes de seu gabinete para solicitar a uma nação estrangeira que interferisse nas nossas eleições para seu benefício pessoal", disse no Senado o presidente do Comitê Judiciário da Câmara de Representantes, Jerry Nadler, um dos procuradores do julgamento político.
Segundo ele, "o presidente violou reiterada e flagrantemente seu juramento... A conduta do presidente é incorreta. É ilegal. E é perigosa".
"A acusação é a resposta final da Constituição a um presidente que se confunde com um rei", completou Nadler.
Depois dele, Sylvia Garcia, outra democrata encarregada desta função, detalhou como Trump pressionou a Ucrânia por motivos "puramente políticos" e insistiu em que não há evidências para corroborar que Trump - como ele alega - investigava legitimamente atos de corrupção.
Ontem, os democratas se concentraram nos aspectos legais e constitucionais do caso. Após a discussão sobre a instauração do julgamento, os democratas planejam usar a sessão desta sexta para discutir a segunda acusação: a obstrução do Congresso.
Será o último dia de acusações antes de a defesa de Trump assumir a tribuna do Senado de sábado até terça-feira.
O objetivo da oposição é romper a unidade republicana para destituir o presidente, um resultado que ainda parece improvável, diante da maioria dos partidários de Trump nesta Casa, de 53 contra 47. Os democratas também esperam que as audiências transmitidas pela televisão em nível nacional influenciem os eleitores na corrida presidencial em novembro.
Ontem, já em Washington, depois de participar do Fórum Econômico Mundial de Davos, Trump atacou o processo de impeachment, acusando os democratas de apresentarem aos senadores um caso "carregado de mentiras e tergiversações".