Em meio a uma onda de protestos internos e à pressão internacional em decorrência da derrubada de um avião ucraniano com 176 pessoas por militares iranianos, o presidente Hassan Rohani fez, ontem, um apelo pela “unidade nacional” e por uma mudança radical na forma de governo do país. Segundo ele, as Forças Armadas precisam pedir desculpas por ter abatido a aeronave comercial e explicar “ao povo o que aconteceu”, para que as pessoas entendam que “não querem esconder nada”.
O governo iraniano alega que foi informado do ocorrido apenas na sexta-feira, dois dias depois da tragédia. Em um primeiro momento, as autoridades não reconheceram sua responsabilidade no episódio, o que provocou manifestações contra o Executivo e uma onda de indignação desde sábado, após a divulgação de imagens mostrando que o avião havia sido abatido.
Referindo-se a uma série de acontecimentos “trágicos” ocorridos neste mês no país — o assassinato do general Quassem Soleimani por parte de Washington e à catástrofe “inaceitável” do voo da Ukrainian Airlines —, Rohani declarou que essa situação deve levar a uma “grande decisão” dentro do sistema político iraniano, que resultará em uma “reconciliação nacional”.
Segundo o presidente, as eleições legislativas, previstas para 21 de fevereiro, “devem ser a primeira etapa” desse processo. “O povo quer diversidade (…) Permitam a todos os partidos e grupos se apresentarem. O país não pode estar governado por uma única ala política. O país pertence a todos”, afirmou, dirigindo-se implicitamente ao Conselho dos Guardiães, organismo encarregado do controle das eleições e que costuma ser acusado pelos reformistas de se exceder na hora de selecionar candidatos.
As declarações de Rohani foram dadas depois de um conselho de ministros e transmitidas, excepcionalmente, ao vivo pela televisão pública. Também inesperado foi o anúncio de que o guia supremo iraniano, Ali Khamenei, liderará a grande oração em Teerã, amanhã. Embora ele seja o imã oficial da oração de sexta-feira, a tarefa geralmente é delegada a outras pessoas. A última vez que Ali Khamenei a oficializou foi em 3 de fevereiro de 2012, na ocasião do 33º aniversário da Revolução Islâmica e no meio da crise internacional em torno do programa nuclear iraniano.