O governo da França “retirou provisoriamente” a medida mais controversa de sua proposta para a reforma da previdência, que previa alterar a idade mínima para solicitação de aposentadoria de 62 para 64 anos. A decisão foi vista como um aceno de negociação com os sindicatos, que voltaram a mobilizar milhares de manifestantes em todo o país. “Para demonstrar minha confiança nos interlocutores sociais, estou disposto a retirar do projeto de lei a medida de curto prazo que havia proposto, a qual consiste em convergir progressivamente de 2022 para uma idade de equilíbrio de 64 anos anos em 2027”, escreveu o primeiro-ministro Edouard Philippe, em carta dirigida aos sindicatos.
Philippe condicionou a retirada definitiva dessa medida a um acordo sobre “o equilíbrio e o financiamento das aposentadorias”, durante uma reunião prevista com sindicatos e organizações de patronais. Caso contrário, disse, o governo “adotará por decreto as medidas necessárias para alcançar o equilíbrio até 2027”. O anúncio foi feito no momento em que dezenas de milhares de pessoas protestaram por toda a França, pela quinta vez em pouco mais de um mês, contra a reforma do sistema previdenciário, uma das promessas eleitorais mais ambiciosas do presidente Emmanuel Macron.
Cerca de 149 mil pessoas participaram de uma passeata em Paris, segundo dados do sindicato, em um dia marcado por confrontos com a polícia e atos de vandalismo perpetrados por manifestantes violentos que quebraram vitrines e saquearam várias lojas. O principal sindicato da oposição, a CGT, alertou rapidamente que estava “mais decidido do que nunca” a alcançar a retirada total do projeto, enquanto outra entidade mais moderada, a CFDT, se declarou pronta para continuar negociando após a retirada da idade mínima.
“Ainda estamos aqui!” e “Renuncie, Macron!”, gritavam os manifestantes. Também houve protestos em outras cidades do país, incluindo Marselha, Toulouse, Lyon e Nantes, com o registro de confrontos. Todos os sindicatos convocaram uma nova manifestação para quinta-feira.
Disposição
O sindicato moderado CFDT, que se opôs à medida de aumentar a idade da aposentadoria para receber 100% da pensão, aplaudiu o anúncio do executivo de que, segundo ele, “marca a disposição do governo de se comprometer”. No entanto, caminhoneiros, professores, advogados e médicos, entre outros, exigem a retirada total do projeto, que prevê a fusão dos 42 atuais regimes de previdência, organizados por profissões, e o estabelecimento de um novo sistema de cálculo, único e exclusivo por pontos.