O governo do presidente Donald Trump anunciou, ontem, um novo pacote de sanções contra o Irã e prometeu cortar “bilhões de dólares” do regime teocrático islâmico. As medidas atingem oito altos funcionários de Teerã (veja quadro), acusados de avançar nos “objetivos de desestabilização” do Oriente Médio. As restrições também se impõem aos maiores fabricantes de aço, alumínio, cobre e ferro do Irã. Washington incluiu na lista de sanções 17 produtores e empresas iranianas de mineração de metal; uma rede de três entidades com sede na China e nas Ilhas Seychelles; e um navio envolvido na compra, venda e transporte de produtos de metal.
“Os Estados Unidos estão alvejando lideranças iranianas por seu envolvimento e cumplicidade nos ataques com mísseis balísticos da última terça-feira”, explicou o secretário do Tesouro norte-americano, Steven T. Mnuchin, em alusão ao lançamento de 22 mísseis contra duas bases usadas pelos EUA no Iraque. “Estamos designando os maiores fabricantes de metais do Irã e impondo sanções a novos setores da economia iraniana, incluindo construção, manufatura e mineração. Essas sanções prosseguirão até que o regime interrompa o financiamento do terrorismo global e se comprometa a jamais ter armas nucleares”, acrescentou.
Entre as autoridades iranianas que foram alvo das novas sanções estão Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã (NSC); Mohammad Reza Ashtiani, vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas do Irã; e Gholamreza Soleimani, comandante da Força de Resistência Basij, uma milícia voluntária leal ao regime dos aiatolás. Trump assinou uma ordem executiva que atinge fontes adicionais de receita usadas por Teerã para financiar e apoiar o programa nuclear, o desenvolvimento de mísseis, as redes de terrorismo e a “influência regional maligna”. As sanções se estendem a todas as pessoas que operam ou fazem transações com setores adicionais da economia iraniana, como construção, mineração, manufatura e indústria têxtil.
Embaixadas
Trump também relatou que o general iraniano Qasem Soleimani, comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária morto por drones em Bagdá, planejava ataques a quatro embaixadas dos EUA, incluindo em Bagdá. “Eu posso revelar que acredito que seriam quatro embaixadas”, admitiu, em entrevista à rede de TV Fox News. Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, assegurou que Soleimani previa atentados “iminentes” contra infraestruturas dos Estados Unidos. Além das representações diplomáticas, ele citou bases militares e instalações em toda a região. “Tínhamos informações precisas sobre uma ameaça iminente”, declarou Pompeo. “Não sabemos exatamente em que dia teriam ocorrido, mas ficou muito claro que Soleimani estava pessoalmente preparando ataques em larga escala contra os interesses dos Estados Unidos e esses ataques eram iminentes.”
Por sua vez, a rede de TV CNN, citando duas fontes, informou que os Estados Unidos tentaram assassinar outra autoridade militar do Irã, na mesma noite em que mataram Qasem Soleimani. A operação secreta envolveu um bombardeio no Iêmen, onde Teerã presta suporte rebeldes huthis. O alvo, de acordo com a agência Associated Press, era Abdul Reza Shahlai, um alto comandante do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. O Pentágono, no entanto, se recusou a confirmar a notícia. A missão teria falhado. “Vimos o relato de um ataque aéreo, em 2 de janeiro, no Iêmen, que há muito é entendido com um espaço seguro para terroristas e outros adversários dos Estados Unidos. O Departamento de Defesa não discute supostas operações na região”, afirmou a porta-voz do Pentágono, Rebecca Rebarich.
Shahlai é acusado pelos EUA de coordenar um complô fracassado para executar o embaixador da Arábia Saudita em Washington, em uma cafeteria situada em bairro sofisticado da capital. De acordo com o Departamento do Tesouro, ele aprovou a liberação de recursos para o recrutamento de pessoas envolvidas na trama. Também avalizou o repasse de US$ 5 milhões como pagamento pela operação.
Protestos e pedidos de retirada militar no Iraque
Milhares de iraquianos protestaram na cidade-santuário xiita de Najaf (foto) e em várias localidades do país contra o governo do premiê Adel Abdel Mahdi e contra a influência do Irã e dos Estados Unidos. Ontem, Washington recusou o requerimento de Bagdá para começar a discutir a retirada de seus 5.200 soldados mobilizados no Iraque, depois da morte do general iraniano Qasem Soleimani, assassinado por um drone norte-americano. Incomodados com a morte, vista como uma violação da soberania iraquiana e como uma maneira de voltar a mergulhar a nação na guerra, Abdel Mahdi pediu ao secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que envie uma delegação para começar os preparativos para retirada das tropas. O Departamento de Estado respondeu que está pronto para “uma conversa”, mas não para retirar seus soldados. “Nesse momento, qualquer delegação enviada ao Iraque discutiria a melhor maneira de revalidar nossa parceria estratégica, mas não debateria uma retirada de tropas”, afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus.
Estado Islâmico saúda assassinato
Um comunicado atribuído ao grupo Estado Islâmico (EI) saudou o assassinato do general Qasem Soleimani, comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária Iraniana. A facção terrorista atribuiu a morte do iraniano a uma “intervenção divina” e admitiu que ela ajudará na causa jihadista. O texto, no entanto, não faz qualquer menção aos Estados Unidos. Soleimani era considerado um dos principais estrategistas na luta contra o EI. No semanário Al-Naba, do Estado Islâmico, o grupo destacou que, enquanto os seus inimigos (EUA e Irã) lutam contra si, gastando energia e recursos, os extremistas aproveitam para se reorganizar.
"As sanções prosseguirão até que o regime interrompa o financiamento do terrorismo global e se comprometa a jamais ter armas nucleares”
Steven T. Mnuchin, secretário do Tesouro norte-americano
Os alvos das sanções
Como as medidas efetivadas pelos Estados Unidos impactarão Teerã
Empresas
» O governo de Donald Trump incluiu 17 produtores e empresas iranianas de mineração de metal, uma rede de três entidades com sede na China e nas Ilhas Seychelles e um navio envolvido na compra, venda e transporte de produtos de metal iranianos, na lista de sanções.
Autoridades iranianas
» Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã (NSC)
» General de Brigada Gholamreza Soleimani, comandante da Força de Resistência Basij
» Mohsen Reza’i, membro do Conselho de Conveniência do Irã
» Mohammad Reza Naqdi, vice-coordenador da Guarda Revolucionária Iraniana
» Mohammad Reza Ashtiani, vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas do Irã
» Ali Abdollahi, vice-coordenador do Estado-Maior das Forças Armadas do Irã
» Ali Ashgar Hejazi, encarregado de segurança do gabinete do aiatolá Ali Khamenei
» Mohsen Qomi, vice-conselheiro de Assuntos Externos do gabinete do aiatolá
As implicações
» Todas as propriedades e os interesses em propriedades dessas pessoas que estejam nos EUA ou em posse ou controle de pessoas nos EUA serão bloqueados. Ficam proibidos os negócios por pessoas nos Estados Unidos ou que estejam transitando pelo país e que as envolvam.