Após cinco semanas de greves e manifestações, o governo francês apresentou na madrugada desta sexta-feira (10/1) dois projetos de lei sobre a reforma da Previdência.
Apesar de manter uma idade "fundamental" fixada em 64 anos e um sistema de descontos em relação à chamada idade legal, que se mantém em 62 anos, os dois projetos definem uma regra que "obriga" o equilíbrio financeiro do futuro sistema universal de aposentadorias, e uma "idade de equilíbrio", a ser adotada a partir de 2022.
Mas a definição desta "idade de equilíbrio" se apresenta como mais um ponto de difícil negociação, e Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), afirmou que a resposta para a ideia será "Não".
O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, deverá manter reuniões nesta sexta-feira com representantes de organizações sindicais e patronais.
Grandes manifestações
Professores, advogados, médicos e funcionários ferroviários saíram às ruas nesta quinta-feira (9/1) para pressionar o presidente Emmanuel Macron a recuar na polêmica reforma.
Segundo os sindicatos, 800 mil pessoas se manifestaram em toda a França, fora Paris.
De acordo com o Ministério do Interior, 452 mil pessoas se manifestaram na França nesta quinta-feira, incluindo 56.000 em Paris.
Na capital, o sindicato da CGT, liderando a disputa, identificou 370 mil pessoas na manifestação, organizada no 36º dia de greve.
"Aposentadoria por pontos: todos perdedores! Aposentadoria aos 60 anos: todos os vencedores! Macron, retire seu plano", proclamavam.
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Em Paris, Gilles Boehm, um engenheiro aposentado de 70 anos, protesta contra um projeto que "criará uma aposentadoria básica fraca, para que aqueles que podem se dar ao luxo de investir em um fundo privado. O que me mata são a violência e a surdez do governo. Macron tem apenas 40 anos, mas nunca vi um reacionário parecido", comentou.
Com a promessa de criar um sistema "mais justo" em que cada euro cotado gere os mesmos direitos para todos, o presidente francês quer unificar o sistema de aposentadoria do país, onde coexistem atualmente 42 regimes diferentes.
Também pretende aumentar a idade para receber aposentadoria integral, de 62 para 64 anos, uma "linha vermelha" para os sindicatos, que consideram essa medida "injusta e injustificada".
"Para nós, pessoal de saúde, no hospital, como no Ehpad (instituições para idosos), é completamente impossível trabalhar até 64 anos", disse à AFP Morgane Henry , de 41 anos, que participou da manifestação em Lyon (centro-leste).
Perturbações na sexta-feira
O Executivo promete um dispositivo "mais justo", mas os oponentes temem uma saída posterior e aposentadorias mais baixas.
Essa reforma é uma medida emblemática do mandato de cinco anos do presidente Emmanuel Macron. Até agora, o Executivo demonstrou sua determinação em realizá-lo.
Em 5 de dezembro, no primeiro dia da greve nacional contra a reforma, mais de 800 mil pessoas foram às ruas em todo país em rejeição ao projeto. Essa nova convocação, a quarta em pouco mais de um mês, será crucial.
Depois de mais de um mês de manifestações e greves, principalmente nos transportes, o apoio à mobilização começou a cair.
Segundo uma pesquisa, pouco mais de 60% da população francesa continua apoiando os manifestantes, 5 pontos a menos do que em meados de dezembro.
A questão da Previdência é delicada na França, que tem um sistema considerado, até agora, um dos mais protetores do mundo.
A companhia ferroviária nacional, SNCF, pediu aos moradores da região de Paris que optem por outros meios de locomoção nesta quinta-feira. Apenas um em cada três trens suburbanos funcionará, e uma afluência significativa nas estações pode ser "perigosa".
"Para a segurança de todos, e na medida do possível, a SNCF recomenda não ir às estações e usar outras soluções de transporte, como o compartilhamento de carros", afirmou a empresa.
O trânsito será perturbado na sexta-feira, com 60% dos trens regionais e quatro tres de alta velocidades de cinco em circulação, segundo a SNFC.
Também estão previstas fortes perturbações nos trens de longa distância que conectam as principais cidades da França: nos Thalys, que conectam Paris à Bélgica, à Holanda e à Alemanha; e no Eurostar, que vai a Londres.
A maioria das linhas do metrô de Paris opera apenas nos horários de pico, assim como os ônibus.
Na falta de transporte público, muitos parisienses têm optado por ir para seus locais de trabalho, ou estudar, de bicicleta, ou a pé.
Após 36 dias de greve ininterrupta, a paralisação nos transportes bate recordes. É a mais longa desde a criação da companhia ferroviária francesa em 1938.
Também são esperados distúrbios na aviação, bem como nas refinarias, várias das quais votaram a favor de uma greve até o final da semana, provocando temores de falta de combustível.
Muitas escolas também amanheceram fechadas. A Torre Eiffel, um dos monumentos mais visitados do mundo, não abrirá suas portas ao público, porque uma parte de seus trabalhadores está em greve.
Os advogados, que com o projeto Macron perderão seu regime de aposentadoria autônomo, também estarão mobilizados. Desde segunda-feira, 70 mil aderiram à greve em todo país.