Parte do Parlamento iraquiano exigiu, ontem, a expulsão das tropas americanas do país, iniciando mais uma etapa de tensão gerada pela morte do general iraniano Qassem Soleimani por um drone americano, na última sexta-feira. O pedido não tem efeito imediato, já que seria necessário mais de um ano para efetivar a saída das tropas, mas é um indicativo de como vai se configurar o equilíbrio de forças na região. Parte do movimento que reivindica a saída das tropas é liderado pelo primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdul Mahdi, antes um apoiador da presença norte-americana na região. Abdul Mahdi fez declaração na qual apontou a saída das tropas norte-americanas como necessária à afirmação da soberania iraquiana.
Durante a reunião do Parlamento, notou-se a ausência dos deputados curdos e a presença da maioria sunita. Muitos gritavam “não à América!” e Abdel Mahdi disse que a morte do general iraniano deixa apenas duas opções: “mandar que as tropas estrangeiras partam imediatamente ou rever seu mandato por um processo parlamentar”. Atualmente, Washington mantém cerca de 5,2 mil homens no Iraque. Na sexta-feira, após o bombardeio que matou Soleimani, Donald Trump anunciou o envio de até 3,5 mil soldados.
O chefe do Parlamento, Mohammed al-Halboussi, leu uma decisão que “obriga o governo a preservar a soberania do país, retirando seu pedido de ajuda”, dirigido à comunidade internacional para combater o Estado Islâmico. O Parlamento tem 329 parlamentares, mas apenas 168 estavam presentes. Em meio à grande confusão, enquanto alguns exigiam uma votação, Halboussi anunciou: “Decisão adotada!”.
A coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos anunciou a suspensão do treinamento das forças iraquianas e da luta contra o EI. Agora, a prioridade seria “proteger as bases iraquianas que hospedam suas tropas”.
Pelo menos duas facções dividem as opiniões no Iraque. Além daqueles que querem a saída dos americanos, há também um grupo que pede a retirada de todas as tropas estrangeiras e é contra a presença iraniana no país. Desde o assassinato de Soleimani, arquiteto da estratégia iraniana no Oriente Médio, e de Abu Mehdi al-Mouhandis, número dois da Hashd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Irã integrada às forças de segurança, o mundo teme uma nova guerra. Os assassinatos criaram um raro consenso contra os Estados Unidos no Iraque, um país abalado por meses de revolta.
Também ontem, manifestantes antigovernamentais do Iraque protestaram contra “os dois ocupantes: Irã e Estados Unidos”, reforçando o cenário de divisão . No Parlamento, o grupo pró-iranianos exige a saída da tropa americana, enquanto outro, de apoiadores, prefere que se mantenha um contrapeso à influência de partidos e grupos armados apoiados por Teerã. Mas os manifestantes não querem nem um nem outro.
5.200
Total de soldados dos EUA em território iraquiano