Jornal Correio Braziliense

Mundo

Tensão aumenta na greve contra a reforma da Previdência na França

Delevoye corrigiu este documento no sábado e declarou 13 pagamentos provenientes de várias organizações, de acordo com o jornal Le Monde

A tensão aumentou neste domingo (15/12) na França entre o governo e os principais críticos do projeto de reforma previdenciária, no décimo primeiro dia de uma greve nos transportes e na véspera de um novo dia de manifestações.

Esta manhã a situação continuava complicada nos transportes. E o debate sobre a Previdência parece parasitado pela situação do arquiteto da reforma, o alto comissário Jean-Paul Delevoye.

Delevoye está numa posição complicada por suspeita de conflitos de interesse com o setor da previdência privada, após omissões em sua "declaração de renda", um documento que os membros do governo devem apresentar junto a uma autoridade que examina o patrimônio e as atividades de figuras públicas.

Delevoye corrigiu este documento no sábado e declarou 13 pagamentos provenientes de várias organizações, de acordo com o jornal Le Monde.

Nos últimos dias, ele foi fortemente criticado por ter exercido dois mandatos no grupo de formação IGS e num think-tank sobre seguros, trabalhos pelos quais recebeu dezenas de milhares de euros. Ele evocou um erro e prometeu devolver parte do dinheiro, uma vez que a Constituição francesa proíbe acumular uma função governamental e outra atividade profissional.

Ele recebeu no sábado o apoio do primeiro-ministro Edouard Philippe, que disse estar convencido de sua "boa-fé", afastando a incerteza que pairava sobre uma possível renúncia.

Cada vez mais preocupado com a situação dos transportes, o chefe de governo criticou severamente os grevistas, que estão causando sérios distúrbios nos trens e no transporte urbano.

- Sem trégua de Natal -
"O Natal é uma época importante. Todos terão que assumir responsabilidades. Não acho que os franceses aceitem que algumas pessoas possam privá-los desse momento", disse ao jornal Le Parisien.

Os funcionários ferroviários em greve já anunciaram que não preveem uma "trégua" para as festas de final de ano.

"Se o governo deseja que o conflito termine antes das festas, tem uma semana inteira para tomar a decisão necessária: a retirada da reforma", disse Laurent Brun, secretário-geral do CGT-Cheminots, principal sindicato de funcionários da empresa ferroviária SNCF.

O maior sindicato francês, o CFDT, que manteve uma posição moderada no início do conflito, juntou-se à mobilização contra o projeto do governo na quarta-feira após o anúncio do estabelecimento de uma "idade de equilíbrio" para a aposentadoria de 64 anos. Abaixo desta idade a pessoa não receberá aposentadoria integral.

Atualmente, a idade para aposentadoria integral é de 62 anos. "É muito simples: para que o CFDT olhe novamente para o projeto, o governo deve concordar em retirar a idade de equilíbrio", disse o secretário-geral do CFDT, Laurent Berger.

A posição do CFDT é crucial, por ser o único do país que não se opõe ao principal capítulo da reforma, a saber, a substituição dos 42 regimes especiais existentes na França por um esquema universal de pontos.

O tráfego permanecerá perturbado neste domingo e na segunda-feira, com um quarto dos trens de alta velocidade e um terço dos trens regionais paralisados, além de quase todas as linhas de metrô fechadas em Paris.

A opinião pública parece ser favorável a este movimento. De acordo com uma pesquisa Ifop para o JDD, 54% dos franceses apoiam a greve e 30% são hostis.