Os autores do estudo suíço também estão interessados em usar os dados para estudar uma nova forma de terapia dos sonhos para tratar distúrbios de ansiedade. Eles querem dar foco principalmente aos pesadelos, já que são caracterizados por um nível excessivo de medo, capaz de interromper o sono, e por ter impacto negativo no indivíduo. ;Acreditamos que, se um certo limiar de medo é excedido em um sonho, ele perde seu papel benéfico como regulador emocional;, diz Lampros Perogamvros, pesquisador da Universidade de Genebra.
Segundo o psiquiatra Primo Paganini, os dados vistos no estudo também podem ser úteis na área médica. ;Se o sonho pode ser usado como um mecanismo para lidar com uma situação de estresse, ele pode ser usado em terapias. Isso reforça também algo que já sabemos, que é importante respeitar as horas de sono, elas são importantes para a consolidação de conhecimento adquirido, por exemplo. Se o sono nos prepara para essas situações difíceis, não podemos deixá-lo de lado;, enfatiza.
Para o psiquiatra, outro ponto que pode ser explorado é a escolha de medicamentos a serem usados pelos pacientes. ;Em indivíduos com depressão e ansiedade que sofrem com insônia, temos que escolher drogas que não alterem a arquitetura do sono. Isso pode ajudar na escolha do psicotrópico a ser receitado, evitando que se perca essa defesa natural;, explica.
Sidarta Ribeiro aponta possíveis aplicações no meio acadêmico. Segundo ele, o estudo pode contribuir para outras pesquisas que buscam entender melhor o sonho. ;Temos duas possibilidades interessantes. A primeira é buscar técnicas que possam analisar essa atividade em forma 3D. Mas isso é mais difícil, pois essas máquinas fazem muito barulho e podem interferir no sono. Outro ponto seria analisar fora do laboratório, na vivência diária, mas é outra coisa também difícil de ser feita;, detalha o vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (VS)
Palavra de especialista
Influência de traumas anteriores
;São dados interessantes, mas precisamos levar em conta que os pesadelos também ocorrem por causa de traumas anteriores. Com isso, temos pessoas que manifestam os traumas em áreas distintas do cérebro. Por exemplo, se duas pessoas sofrem um acidente de carro, esse impacto neural pode ser distinto em cada uma, o que interfere nessas análises. Outra coisa importante de se lembrar é que, quando sonhamos, é o inconsciente querendo falar, e ele fala diretamente para o indivíduo que sonhou. Então, temos outras mensagens a serem interpretadas nos sonhos, que podem ir além de uma preparação para situações difíceis. Esse é um estudo que agrega, mais ainda é bastante inicial. Precisamos ter mais dados até para que isso possa ser usado na área de tratamento.;
Keli Rodrigues,
neuropsicóloga e consultora do Grupo Med Mais, em Brasília