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O Chile completou ontem 46 dias de protesto social incessante com o presidente direitista Salvador Piñera batendo recordes de impopularidade, mas sem que as forças políticas e organizações consigam divisar uma solução política para o profundo descontentamento com as desigualdades. Uma pesquisa divulgada ontem pela empresa Cadem mostra que apenas 10% dos entrevistados aprovam o governo de Piñera, contra 82% que o desaprovam. Entre os 708 chilenos que responderam à enquete, feita na semana passada, por telefone, 96% condenam os atos de violência que têm acompanhado as manifestações, como saques e depredações.
Pesa sobre a imagem do presidente, além da ausência de reação eficaz para reconciliar a sociedades e retomar a normalidade, o impacto de um mês e meio de turbulências para a economia. O Banco Central chileno divulgou ontem o Índice de Atividade Econômica Mensal (Imacec, que projeta a variação do PIB) para outubro, e o resultado foi um recuo de 3,4% em comparação com o mesmo mês de 2018 ; bem pior do que a queda de 1% projetada pelo governo e pelos mercados. ;Isso significa uma estagnação da economia, que tem uma face social muito importante;, admitiu o ministro da Economia, Lucas Palacios.
A revolta contra o governo explodiu em Santiago, em 18 de outubro, com o anúncio de um aumento nas tarifas de metrô. Estudantes iniciaram os protestos, pulando catracas, em uma noite que terminou com estações depredadas e incendiadas e as primeiras notícias de saques a supermercados. Com estado de emergência decretado e a capital sob toque de recolher, os protestos não apenas se repetiram como se alastraram pelas principais cidades do país, mesmo depois de revogado o aumento.
Desde então, a convocação pelas redes sociais passou a focalizar outras queixas que remontam ao fim da ditadura do general Augusto Pinochet, em 1990: baixos salários e aposentadorias e custos elevados da educação e da saúde, privatizadas. A violência que acompanha o movimento deixa até aqui o saldo de 23 mortos e nenhuma resposta capaz de desmobilizar as ruas ; seja por parte de organizações sociais e partidos políticos, seja por parte do governo. Nem mesmo a convocação de um plebiscito para a reforma da Constituição legada pela ditadura conseguiu restaurar a normalidade.
Ontem, jovens retomaram a origem dos protestos e pularam as catracas em várias estações de metrô de Santiago. A maioria vestia uniformes escolares e usava lenços sobre o rosto, para evitar o reconhecimento pelas autoridades. Entre os lemas que gritavam, aquele que embalou as primeiras noites de manifestações: ;Evadir, não pagar, outra forma de lutar!”
10%
Taxa de aprovação o presidente do Chile, em pesquisa divulgada ontem