As promessas em 1; de dezembro de 2018 eram muitas e envolviam uma transformação ordenada, pacífica, profunda e radical. Em seu discurso de posse, Andrés Manuel López Obrador (AMLO) avisou que acabaria com a corrupção e a impunidade, além de amaldiçoar o neoliberalismo. A mudança prevista pelo presidente não veio. Exatamente um ano depois de receber a faixa presidencial de Enrique Peña Nieto, López Obrador voltou ontem à Praça do Zócalo, no coração da Cidade do México, para fazer um balanço de seu governo. ;Existe uma maior distribuição de riqueza, que não fica em poucas mãos, chega à maioria da gente;, declarou, reconhecendo que o país não atingiu o crescimento desejado. Se a economia não correspondeu aos anseios do governo, o mesmo pode se dizer da segurança pública.
Durante o primeiro ano de gestão, López Obrador amargou o escândalo da prisão e da libertação de Ovidio Guzmán. Capturado pelas forças de segurança, o filho de Joaquín Guzmán Loera ;El Chapo; ; líder do cartel de Sinaloa ; foi solto poucas horas depois, enquanto seus comparsas semeavam o terror em Culiacán, em 17 de outubro passado. Dezoito dias depois, três mulheres e seis crianças da família mórmon LeBarón, de dupla nacionalidade mexicana e norte-americana, foram alvos de uma chacina em Sonora (norte).
;Foi um começo de governo sem brilho, nada espetacular;, admitiu ao Correio Vicente Sánchez Munguia, professor do Colegio de la Frontera Norte (em Tijuana). ;O presidente López Obrador chega ao primeiro aniversário de governo com uma dívida em relação ao que prometeu e às expectativas criadas. É claro que se trata apenas de um ano, mas ele tem recebido muitas críticas em relação à economia;, acrescentou. Em três décadas de neoliberalismo, o México experimentou um crescimento médio anual de 2%.
Segundo Munguia, os indícios apontam para um estancamento. ;Sobre a insegurança e a violência, as cifras mencionam que a gestão atual está superando 2018 em número de assassinatos, ano recorde em mortes. AMLO montou sua estratégia focada nos militares e deu à caserna espaço demais.;
Em seu pronunciamento, López Obrador assegurou que a redução de gastos do governo permitiu um orçamento maior para 2020, sem a necessidade de aumentar os impostos. Ele exortou a população mexicana a lhe conceder mais um ano para estabelecer as bases do que classificou como ;uma nova pátria;. ;Penso que um ano mais; quero dizer, em dezembro, e aqui voltaremos a nos encontrar, de 2020, já estarão estabelecidas as bases para a construção de uma nova pátria;, afirmou, de acordo com o jornal El Universal. ;A mudança que realizamos está à vista. No período neoliberal, se faziam leis sem considerar o interesse público.; AMLO explicou que o salário mínimo aumentou em 16 pontos percentuais, ;como não ocorrera em 36 anos de neoliberalismo;. E garantiu que, dos 100 compromissos firmados durante a campanha, 89 foram cumpridos.
No turístico Paseo de la Reforma, cerca de 10 mil opositores marcharam ontem, em um ato contra a violência no país, segundo a agência France-Presse. ;Temos que mudar tudo, a estratégia antidrogas, e, entre todos, temos que mudar tudo. Nenhum presidente pode resolver o problema da violência sozinho;, disse Julián LeBarón, líder da comunidade mórmon vítima de uma chacina no início do mês passado. Ontem, a Procuradoria Geral do México anunciou que prendeu vários indivíduos supostamente ligados à matança. Não foram dados outros detalhes. O massacre de Sonoro causou mal-estar entre Washington e a Cidade do México. Ontem, AMLO agradeceu ao presidente Donald Trump pela cooperação na elucidação do crime, mas deixou um recado à Casa Branca: ;Não aceitamos nenhum tipo de intervenção, somos um país livre e soberano;.
;Eu devo tudo o que sou ao povo, e o seguirei escutando, atendendo e servindo a ele. Jamais o trairei;
Andrés Manuel López Obrador, presidente do México
Eu acho...
;O panorama do México é muito complexo. Durante a campanha, Andrés Manuel López Obrador o simplificou bastante. Ele acreditava que, com o combate à corrupção, aplicaria os recursos resgatados em projetos sociais. Quando se simplificam os problemas, faz-se o mesmo com as soluções. O início do governo de AMLO foi falido, até certo ponto. Tudo dependerá da recuperação da economia.;
Vicente Sánchez Munguia, professor do Colegio de la Frontera Norte (em Tijuana)
Tiroteio deixa 21 mortos
Um tiroteio entre policiais e traficantes deixou pelo menos 21 mortos, ontem, na comunidade mexicana de Villa Unión, perto da fronteira com os Estados Unidos. O confronto começou pouco antes do meio-dia (15h em Brasília) nesta localidade do departamento (estado) de Coahuila, ao norte. Policiais locais detectaram vários veículos com civis fortemente armados, percorrendo a comunidade, e solicitaram a intervenção de militares. Entre os mortos, o governo de Coahuila identificou quatro policiais e sete criminosos. Outros três corpos não identificados seriam de civis. Um adulto e um menor estão desaparecidos. Na operação, foram apreendidas caminhonetes, armas e munições de alto calibre. Ao menos seis policiais ficaram feridos, mas nenhum deles corre risco de vida.