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O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, anunciou que renunciará ante o Parlamento, horas depois de o grande aiatolá Ali Sistani, uma figura tutelar na política, aconselhar seu afastamento. A saída do chefe de governo ocorre após dois meses de protestos no país, sem que ele conseguisse pôr fim à onda de violência que matou 21 pessoas em um dia.
Adel Abdel Mahdi, um independente sem base partidária ou popular de 77 anos, cedeu ante o pedido de Sistani para que o Parlamento retirasse sua confiança no governo. A medida visava evitar o ;caos; e mais mortes. Desde o início das manifestações contra o premiê, 420 pessoas morreram em Bagdá e no sul xiita.
Imediatamente, na Praça Tahrir, em Bagdá, epicentro dos protestos que pedem há dois meses uma reforma do sistema e a renovação de uma classe política corrupta e incompetente, a multidão explodiu de alegria, disse um correspondente da agência France-Presse. O apoio de peso, no entanto, não foi o suficiente para deter a espiral de violência no sul agrícola e tribal. Em Nasiriyah, a polícia matou 15 manifestantes, enquanto outro foi morto a tiros em frente à sede de um partido em Najaf.
;A decisão de Abdel Mahdi foi errada. Ele deveria ter enviado o pedido de renúncia ao presidente do Iraque, Barhim Salih. Caberia a Salih concordar com a medida, levando à saída de todo o governo;, explicou ao Correio uma estudante de medicina de 22 anos que vive em Basra e não quis ter o nome divulgado. ;Na minha opinião, essa decisão é uma mentira para conter os manifestantes. Somos pacíficos, não temos qualquer arma. Eles usam armamentos diferentes e perigosos e mataram um menino de 15 anos com um tiro na cabeça;, acrescentou, ao enviar duas fotos do garoto ; uma em que aparecia vivo e outra logo depois, tombado morto na calçada.
A tensão aumentou no sul do Iraque na quinta-feira em razão da repressão conduzida por comandantes militares enviados por Bagdá, que tiveram que recuar. Naquele dia, 46 manifestantes foram mortos e quase mil ficaram feridos, segundo médicos e policiais. ;O crescente número de mortos e feridos é intolerável;, denunciou a Organização das Nações Unidas. Os Estados Unidos, por sua vez, disseram ;compartilhar as preocupações legítimas dos manifestantes; e pediram ao governo do Iraque ;que encaminhe as reformas exigidas pelo povo;.