Jornal Correio Braziliense

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Queda de braço em Hong Kong

Legislação sancionada por Trump amplia o apoio de Washington ao movimento pró-democracia no território e irrita o regime comunista, que denuncia "intromissão" e ameaça com represálias, em meio à guerra comercial

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Ainda engalfinhados na guerra comercial que travam desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca, China e Estados Unidos se veem às voltas com outro foco de disputa, desta vez diretamente político-diplomática. O regime comunista de Pequim reagiu com irritação a duas leis sancionadas ontem pelo presidente americano, depois de aprovadas no Congresso por consenso bipartidário, para apoiar os manifestantes pró-democracia que desde junho desafiam a autoridade central em Hong Kong. O governo chinês definiu a iniciativa como ;abominação absoluta que oculta intenções sinistras;, e ameaçou adotar represálias ; não especificadas ; contra Washington, a quem acusa de intrometer-se em um assunto interno.

Uma das leis autoriza o governo americano a adotar represálias contra autoridades da China e de Hong Kong responsáveis por abusos contra os direitos humanos. A outra veta a venda, para as forças de segurança do território, de equipamentos de fabricação americana destinados à repressão de manifestações, como balas de borracha e gás lacrimogêneo. Em comunicado, Trump afirmou que promulgou a legislação ;com a esperança de que os líderes e representantes da China e de Hong Kong saibam solucionar de forma amistosa suas divergências;, e ;em respeito ao presidente (chinês) Xi Jinping e ao povo (da cidade);.

O gesto de Washington foi comemorado pelos ativistas nas ruas de Hong Kong, que tem um estatuto especial desde que foi retornada pelo Reino Unido à China, em 1997. Desde junho, eles se lançaram às ruas por maior autonomia política, e no último fim de semana deram vitória estrondosa aos movimentos pró-democracia em eleições locais. Em Pequim, no entanto, a resposta do regime comunista foi protestar contra uma medida que ;apoia descaradamente os atos de violência cometidos contra cidadãos inocentes que foram agredidos, feridos e queimados;.

Pela segunda vez em quatro dias, o embaixador dos EUA, Terry Branstad, foi chamado à chancelaria chinesa para ouvir os protestos contra a ;intromissão; do governo Trump nos ;assuntos internos de Hong Kong;. O vice-chanceler Le Yucheng ;aconselhou; a Casa Branca: ;Corrijam o erro e não apliquem essa lei, para não prejudicar ainda mais as relações e a cooperação sino-americana;, o que foi entendido como menção às discussões sobre a guerra comercial. Sintomaticamente, porém, o Ministério do Comércio, que representa Pequim nas conversações, não mencionou a controvérsia de Hong Kong na entrevista semanal que concede à imprensa chinesa e estrangeira.

Na ausência de um acordo até 15 de dezembro, entrará em vigor mais uma rodada de sobretaxas anunciadas pelos EUA sobre produtos chineses de exportação, incluindo smartphones e laptops. ;Pequim vai fazer barulho, mas não pode fazer muita coisa concretamente, nesse terreno;, avalia Steve Tsang, diretor do Soas China Institute, com sede em Londres, ouvido pelo jornal americano The New York Times. James Green, que até o ano passado era o principal funcionário da área comercial na embaixada dos EUA em Pequim e hoje trabalha em uma consultoria em Washington, pondera sobre a pressão enfrentada pelos representantes da China no contencioso com os EUA: ;Eles já têm o bastante com o que se preocupar nessas conversações para permitir que outros assuntos atravessem o caminho;.


;Corrijam o erro e não apliquem essa lei, para não prejudicar ainda mais as relações e a cooperação sino-americana;

Le Yucheng, vice-chanceler da China



Surpresa no Afeganistão



Os militares americanos em serviço na base de Bagram, no Afeganistão, receberam ontem a visita do presidente Donald Trump no feriado do Dia de Ação de Graças. Ele chegou sem anúncio prévio, como é determinado pela política de segurança nacional. Além de prestigiar o tradicional jantar, que tem o peru como carro-chefe, Trump fez surpresa ao anunciar a retomada de negociações entre seu governo e o movimento islâmico radical Talibã, que combate o governo de Cabul. ;O Talibã quer fazer um acordo e nós vamos nos encontrar com eles;, afirmou, ao lado do presidente afegão, Ashraf Ghani. ;Vínhamos dizendo que é preciso fazer um cessar-fogo, e agora, eles aceitam;, afirmou o visitante. Diante do anfitrião e aliado, porém, Trump reafirmou o compromisso de apoio militar: ;Ficaremos aqui enquanto não houver acordo ou até a vitória;.