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Advogado complica Trump

Rudolph Giuliani, representante legal do presidente, explorou negócios particulares na Ucrânia no mesmo período em que dava respaldo aos esforços da Casa Branca para obter informações que comprometessem um rival político

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Na véspera do feriado de Ação de Graças, e na expectativa por uma semana de temperatura em alta no inquérito de impeachment em curso na Câmara dos Deputados, o tradicional jantar em família do presidente Donald Trump, na noite de hoje, foi atravessado por revelações embaraçosas sobre a atuação de seu advogado, Rudolph Giuliani, no caso que pode desembocar em um processo político no Senado. Os jornais The New York Times e The Washington Post tiveram acesso a documentos que expõem negócios próprios conduzidos por Giuliani com altos funcionários da Ucrânia no mesmo período em que reforçava as gestões do presidente para que o governo de Kiev abrisse investigação e buscasse informações comprometedoras sobre o ex-vice-presidente Joe Biden, possível adversário de Trump na eleição de 2020.

Durante encontros mantidos em janeiro e fevereiro com o procurador-geral da Ucrânia, Yuri Lutsenko, o representante legal de Trump discutiu a possibilidade de que o seu escritório de advocacia atuasse nos esforços legais para a recuperação de fundos do governo de Kiev que teriam sido desviados. Embora nenhum contrato tenha sido concluído, em meados de fevereiro uma minuta de acordo foi impressa em papel timbrado do escritório e assinada por Giuliani. De acordo com ambos os jornais, ele receberia US$ 200 mil para representar Lutsenko ;na recuperação de somas de dinheiro (ucraniano) depositadas em várias instituições financeiras fora do país;.

;Eu achei que era tudo muito complicado e nunca recebi nem um centavo sequer por isso;, alegou o advogado do presidente, quando questionado ontem pela imprensa. Trump, que se encontra com a família em sua casa de veraneio na Flórida, não comentou as revelações, mas na véspera tinha voltado a rebater acusações da oposição democrata sobre a ;diplomacia paralela; que, segundo funcionários do Departamento de Estado, era desenvolvida por Giuliani, em especial nas relações com a Ucrânia e nas gestões para incriminar Biden. Embora admita que o aliado interferiu no assunto, o presidente negou, durante entrevista a uma emissora de rádio, que o tenha orientado. ;Eu não dirigi Rudy, mas ele é um guerreiro, um grande lutador contra a corrupção;, respondeu. ;Deve ter visto alguma coisa lá.;

A pressão sobre a Ucrânia para que investigasse Biden e o filho Hunter, que foi diretor de uma empresa ucraniana do setor energético quando o pai era o vice de Barack Obama, foi o ponto de partida para a abertura do inquérito de impeachment. Em um telefonema feito em julho ao presidente Volodymyr Zelensky, Trump condicionou a liberação de um pacote de ajuda militar americana à abertura da investigação, segundo revelou um analista de inteligência em serviço na Casa Branca ; versão atestada pela transcrição do telefonema. Durante a conversa, o presidente citou ao menos três vezes Giuliani, a quem se referiu como ;o maior prefeito da história de Nova York; e apresentou como interlocutor nas negociações sobre a ajuda.

Além de estarem no centro das atenções dos comitês da Câmara que conduzem o inquérito de impeachment, as incursões de Giuliani na Ucrânia estão na mira também de uma investigação federal, Ele é suspeito de ter manobrado, a pedido de clientes potenciais ucranianos, em favor do afastamento da então embaixadora americana em Kiev, Marie Yovanovitch.



Físico de campeão


Recolhido para o feriado do Dia de Ação de Graças em seu resort na Flórida, Donald Trump tomou distância do noticiário político, mas não resistiu a cutucar os adversários e divertir os apoiadores com uma fotomontagem no Twitter. Nela, colou o próprio rosto ao corpo do boxeador Rocky Balboa, personagem de ficção interpretado por Sylvester Stallone em uma série de filmes de enorme sucesso de bilheteria. Na véspera, em um comício, o presidente de 73 anos rebateu rumores de que teria sofrido um ataque cardíaco ; sua saúde, associada à idade, é objeto recorrente de questionamento dos adversários, com vistas à disputa pela reeleição, em 2020.m seu discurso, Trump ironizou os rumores sobre o ataque cardíaco, relacionando-os ao fato de ter aparecido sem gravata durante a visita a um hospital. ;E é verdade, eu não estava usando gravata;, disse. ;Por que eu deveria, se a primeira coisa que me diriam seria: ;Tire a gravata e mostre o seu torso magnífico. Nunca vimos um torso assim;;, provocou, arrancando gargalhadas da plateia.


;Eu não dirigi Rudy, mas ele é um guerreiro, um grande lutador contra a corrupção. Deve ter visto alguma coisa lá;

Donald Trump, presidente dos EUA