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Do alto de uma ponte, agentes do Esquadrão Móvel Antidistúrbios da Colômbia (Esmad) disparavam bombas de gás lacrimogêneo em direção a manifestantes encapuzados que se entrincheiravam dentro do câmpus da Universidad Nacional, em Bogotá. A poucas horas da segunda greve geral em menos de uma semana, o clima de tensão foi agravado pela morte de Dilan Cruz. A agonia do jovem de 18 anos atingido no rosto por uma granada de gás lacrimogêneo terminou na segunda-feira, dia em que se graduaria no ensino médio. No mesmo viaduto onde os policiais se amontoavam, uma faixa dependurada acusava: ;Dilan não morreu; o assassino é o Estado;. No interior da universidade, gritos de ;Resistência! Resistência!”. O adolescente tinha acabado de se tornar a própria face dos protestos na Colômbia, e o país se preparava para uma quarta-feira nervosa. Em seis dias de manifestações contra o governo do presidente Iván Duque, a repressão deixou quatro mortos.
;O governo não forneceu bons sinais para a interlocução com o Comitê Nacional de Greve. Ele busca impor a tática dilatória de sua conversação nacional e colocou seus ministros a convocarem as organizações separadamente para nos dividir. Todos, em unidade, decidimos: greve em 27 de novembro;, afirmou no Twitter Diógenes Orjuela, um dos líderes do movimento de oposição da Duque e presidente da Central Unitária dos Trabalhadores da Colômbia, um dos sindicatos mais poderosos do país. ;Hoje teremos mobilizações, panelaço ao meio-dia, protesto com velas e panelaço à noite, greve amanhã (hoje).;
Duque publicou fotos da reunião com o Comitê Nacional de Greve e demonstrou otimismo em relação a uma saída pacífica. ;A esta hora avança o encontro com o Comitê Nacional de Greve, um espaço para escutá-los com atenção, junto a companheiros do governo. Nós os convocamos (;) para que, em meio às diferenças, possamos aprofundar as propostas e ideias pensando no país;, escreveu o presidente em seu perfil no Twitter. Ele também comentou o falecimento de Cruz. ;Lamentamos profundamente a morte do jovem Dilan Cruz. Expressamos nossas sinceras condolências à sua mamãe, ao seu avô e às suas duas irmãs. Reitero minha solidariedade para com esta família;, disse o mandatário, que enfrenta o pior momento de sua gestão, com uma taxa de desemprego de 10,1% e um índice de impopularidade que se aproxima dos 70%.
Professor da Universidad Externado de Colombia (em Bogotá), Andrés Macías Tolosa explicou ao Correio que, na prática, a greve dura vários dias. ;Os organizadores da paralisação reclamam, entre outras coisas, que o diálogo com o presidente seja bilateral e não por meio de terceiros. O presidente deve manter aberto um canal bilateral, para que possa ver seu compromisso com o diálogo. Um elemento importante é que se tornou público um documento oficial com 13 pontos específicos formulados pelo Comitê Nacional de Greve para serem colocados à mesa de negociações, entre eles, o fim das reformas previdenciária, trabalhista e educacional, além da revogação do plano de privatização de 19 estatais. ;Isso permite definir os temas a serem debatidos e sobre os quais existem propostas concretas. É um avanço. A greve de amanhã (hoje) exercerá ainda mais pressão sobre Duque, a fim de que ele avance o quanto antes na negociação e evite atos de violência nos protestos.;
Tolosa considera que a conjuntura sociopolítica é muito complicada para o governo. ;A principal mensagem que Duque deveria mostrar é o desejo de escuta e de diálogo e avalizar marchas pacíficas;, disse. ;Todo isso ocorre em um contexto no qual, por um lado, um estudante que apoiava as manifestações morreu graças às ações do Esmad.;
Papa
Ontem, o papa Francisco admitiu o temor de que a situação na América Latina se iguale às condições vivenciadas durante a ditadura militar. Ao ser perguntado sobre a situação de vários países, como Chile, Colômbia, Bolívia e Nicarágua, com tumultos, violência nas ruas, mortos e feridos, o pontífice reconheceu que não tinha como fazer uma análise. ;A situação atual na América Latina se assemelha à de 1974-1980, no Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai com (Alfredo) Stroessner, e também creio que a Bolívia (...). Uma situação pegando fogo, mas não sei se é um problema fácil de detectar.;
Eu acho...
;A morte de Dilan tem um impacto muito forte na família e em nós, os amigos dele. Ela é um aviso de que, se sairmos para exigir nossos direitos, podemos morrer. Desde que Dilan estava internado, sabíamos que se tornaria um símbolo. Ele era grande amigo e um reflexo do povo colombiano, da luta e da resistência. Quero deixar claro que Dilan jamais foi um vândalo, nem um encapuzado ou uma ameaça social. Ele somente queria lutar.;
John Sebastián Arellano Cardona (D), 19 años, estudante, morador de Bogotá e um dos melhores amigos de Dilan Cruz (E). Em depoimento ao Correio