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O primeiro-ministro interino de Israel, Benjamin Netanyahu, promete lutar até a última instância da Justiça contra as acusações de corrupção pelas quais foi ontem formalmente processado, uma situação jamais vivida no país por um chefe de governo no exercício do mandato. Em pronunciamento pela tevê, Bibi, como é conhecido, denunciou uma ;tentativa de golpe; e uma ;caça às bruxas;, e reafirmou que não renunciará ao cargo ; uma prerrogativa que lhe cabe, segundo a legislação israelense. A decisão anunciada pelo procurador-geral, Avichai Mandelblit, acrescenta outro ingrediente ao impasse político que pode levar os israelenses a voltarem às urnas pela terceira vez no intervalo de um ano, situação inédita em sete décadas desde a fundação do Estado.
;O que está acontecendo aqui é uma tentativa de impor um golpe de Estado;, protestou o premiê, que classificou como ;manchados; os três processos aos quais terá de responder (leia o quadro). Ele é acusado de fraude, suborno e quebra de confiança, em casos relacionados com suposto favorecimento a empresários em troca de cobertura positiva na mídia ou de presentes de luxo. ;Tudo isso são acusações falsas com motivação política, que têm por objetivo a minha queda;, insistiu Netanyahu. ;Continuarei dirigindo este país, de acordo com o que a lei prevê.;
;O cumprimento da lei não é uma questão de escolha, de direita ou esquerda. Não é um assunto de política;, disse o procurador-geral ao anunciar a decisão de processar o premiê. Mandelblit admitiu que tinha ;o coração pesado;, mas frisou que o mais importante para o país é ;saber que ninguém está acima da lei;. Segundo a legislação, o chefe de governo não é obrigado a deixar o cargo enquanto não forem esgotados os recursos. A expectativa é de que o início das audiências demore ainda alguns meses. Mesmo que Netanyahu seja condenado, seriam necessários alguns anos até o julgamento na última instância.
Impasse
;É um dia muito triste para Israel;, lamentou o principal rival político de Bibi, o general reformado Benny Gantz, que divide com o premiê o protagonismo no drama político encenado pelo país desde a eleição legislativa de setembro ; a segunda do ano. O bloco direitista de Netanyahu e o de centro-direita, liderado por Gantz, saíram das urnas empatados. Nenhum dos dois políticos conseguiu negociar um acordo de coalizão que lhe permitisse maioria entre as 120 cadeiras da Knesset (parlamento). Depois da desistência formal do general, na quarta-feira, o presidente israelense, Reuven Rivlin, tomou ontem a medida inédita de delegar ao parlamento a missão de encontrar um nome capaz de compor o gabinete, com prazo de 21 dias.
;O Estado de Israel atravessa um período sombrio de sua história;, lamentou o presidente da Knessetm Yuli-Yoel Edelstein. Ele recebeu o mandato do presidente e deve iniciar consultas para explorar as escassas possibilidades de um acordo que evite a convocação de novas eleições, depois do resultado inconclusivo dos pleitos de abril e setembro. A acusação formal contra Netanyahu, líder do partido direitista Likud e o premiê que por mais tempo governou o país nas sete décadas de existência, torna praticamente impossível a solução mais viável, numericamente ; uma coalizão entre o Likud e o Kahol Lavan (;azul e branco;), de Gantz, que somam mais do que as 61 cadeiras necessárias.
Durante a campanha, o general afirmou seguidas vezes que não se sentaria em um gabinete com alguém que responde a processo criminal. Diante dos resultados, chegou a ser sugerido um revezamento entre os dois líderes na chefia do governo, mas a fórmula esbarrou na exigência do premiê de ser o primeiro no posto ; um cálculo no qual levou em conta sua delicada situação com a Justiça.
;O cumprimento da lei não é uma questão de escolha, de direita ou esquerda. Não é um assunto de política;
Avichai Mandelblit, procurador-geral de Israel
As acusações
O premiê interino enfrenta três processos
Amigos de luxo
No Caso 1.000, Benjamin Netanyahu é acusado de fraude e quebra de confiança por ter recebido de amigos milionários caixas de champanhe e charutos em troca de favores oficiais. Ambos negam que tenha havido tráfico de influência ou suborno e sustentam que os presentes, no valor total de 700 mil shekels (185 mil euros), foram demonstração de apreço pessoal, sem qualquer impropriedade.
Imagem positiva
O Caso 2.000 gira em torno de relações viciadas com o proprietário do Yedioth Ahronot, o jornal de maior circulação no país, a quem o premiê teria tentado ajudar propondo leis que prejudicavam uma publicação concorrente. Em retorno, Netanyahu recebia cobertura noticiosa favorável. A legislação não passou, mas o empresário foi acusado de suborno.
O premiê responderá por fraude e quebra de confiança.
Ligações duvidosas
No processo 4.000, considerado o mais grave, Netanyahu é acusado de suborno, fraude e quebra de confiança. A alegação é de que ele teria promovido decisões regulatórias para o setor que beneficiavam uma companhia líder nas telecomunicações. Como contrapartida, recebia cobertura de mídia positiva em um site mantido pelo grupo. O principal acionista da empresa também é acusado de suborno.