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Espanhóis vão às urnas sem desatar os nós

Mais de 37 milhões de pessoas são esperadas hoje para a quarta eleição nacional em quatro anos. A expectativa é de que o país siga em um bloqueio político. Nenhum dos partidos deverá conquistar maioria para formar um governo

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Na quarta eleição nacional em quatro anos ; a segunda de 2019 ;, os espanhóis irão às urnas com a expectativa de que não conseguirão vencer o bloqueio político que dificulta o trabalho do Parlamento e é alimentado, principalmente, pela crise na Catalunha e os reflexos da recessão econômica de 2008. As pesquisas indicam que o pleito de hoje terá um resultado parecido com o de abril: o Partido Socialista (PSOE), do primeiro-ministro interino, Pedro Sánche, seguirá na liderança, mas sem tamanho suficiente para formar um governo: ao menos 176 das 350 cadeiras.

Hoje, a sigla tem 123 cadeiras, e a expectativa é de que fique com 117. As sondagens indicam ainda um avanço expressivo do Vox, partido de extrema direita que tem 24 cadeiras na Câmara e pode dobrar de tamanho, o que o transformaria na terceira força política da Espanha. Esse avanço é usado por Sánchez para tentar mobilizar os eleitores de esquerda, estratégia também adotada em abril, quando venceu as legislativas sem maioria absoluta. ;O que temos de fazer, eleitores progressistas, é nos mobilizarmos em 10 de novembro e frear a extrema direita com nosso voto;, afirmou o líder, na sexta-feira.

Sánchez também criticou os rivais de direita, Partido Popular (PP) e Cidadãos, pela proximidade com o Vox em troca de poder. Os três partidos deram um passo simbólico na última quinta-feira, quando o Parlamento regional madrileno aprovou uma proposta, que não era projeto de lei, promovida pelo Vox para pedir ao governo central que considere, ;de maneira imediata;, ;ilegais os partidos separatistas que atentam contra a unidade da nação;.

Essa proposta foi defendida pelo líder do Vox, Santiago Abascal, em seu grande ato de encerramento de campanha na Praça de Colón, em Madri. ;Se os espanhóis nos apoiam, teremos pulso firme para suspender a autonomia (catalã), para ilegalizar os partidos separatistas e para ordenar a detenção e a disposição judicial do golpista Torra;, declarou, referindo-se ao presidente regional da Catalunha, Quim Torra.

Tanto o PP (com 66 deputados atualmente) quanto o Vox apostaram em capitalizar a tensão na Catalunha para aumentar a participação no Parlamento. ;O antisseparatismo continua sendo o maior ativo, e o Vox pode canalizar grande parte da reação contra o separatismo;, avalia o historiador Xavier Casals. O grande perdedor nas eleições de hoje poderá ser o Cidadãos, partido de centro-direita que parece ter alienado muitos de seus eleitores. As pesquisas apontam a possibilidade de queda de 57 para apenas 15 deputados. Espera-se que o PP cresça nas urnas, chegando a 92 deputados.

Após as eleições de abril, PSOE e Podemos fracassaram na tentativa de formar um governo de coalizão, o que precipitou o pleito de hoje. A falta de acordo prolongou o cenário de bloqueio político, que está virando crônico. Para se ter uma ideia, o orçamento em vigor é o de 2018, elaborado pelo governo anterior do PP. Sem responder como solucionar o bloqueio, PP e PSOE insistem em defender o voto útil. ;Quem deseja que Pedro Sánchez não governe só tem como opção votar no PP;, disse o líder do PP, Pablo Casado.

Crise econômica

Apesar da crise catalã mobilizar a disputa, a economia é assunto que preocupa. Na última quinta-feira, a Comissão Europeia revisou para baixo a previsão de crescimento do PIB na Espanha este ano: para 1,9%, em comparação com os 2,3% anteriormente estimados. O governo e o Banco da Espanha fizeram revisão parecida: de 2,1% e 2%, respectivamente. Entre 2015 e 2017, a Espanha alcançou um crescimento anual em torno de 3%.

Para especialistas, o principal fator da crise econômica está no contexto global, marcado por incertezas capturadas a várias guerras comerciais e uma desaceleração dos principais parceiros comerciais, com União Europeia e Alemanha à frente. ;Vimos uma deterioração significativa no consumo privado e também houve desaceleração significativa no investimento empresarial, que é consistente com essa incerteza;, destacou analista Rafael Domenech, da BBVA Research, à agência France-Presse (AFP) de notícias.

No fim de setembro, o desemprego estagnou em cerca de 14%. O pior aumento no número de pessoas em busca de trabalho desde 2012 foi registrado em outubro. Ainda assim, o presidente do governo interino, o socialista Pedro Sánchez, está otimista. ;Temos bases sólidas para responder a esse resfriamento;, destacou na última quarta-feira, observando que o crescimento da Espanha está ;acima da média da zona do euro; (0,2% no segundo trimestre).

"O Vox vem da ala dura do PP e usa questões (;) como rejeição ao aborto, ao casamento gay ou à lei contra a violência de gênero, que o partido acusa de criminalizar o homem;
Xavier Casals, historiador


Extrema direita fortalecida

Certos de que ganharão força nas eleições legislativas de hoje, os adeptos da extrema direita do Vox protagonizaram o fim da campanha eleitoral. A quantidade de pessoas que se reuniram nos últimos comícios e a grande mobilização nas redes sociais são alguns dos sinais de que não há mais constrangimento em assumir a postura mais radical.

;Ser Vox é cada vez menos tabu. Antes, parecia muito ruim, mas, agora, é cada vez menos tabu;, diz à agência France-Presse de notícias (AFP) Marcos Álvarez. O médico de 31 anos participava de um comício que reuniu mais de 2 mil pessoas em Santander, feudo do Partido Popular (PP, conservador) e onde o Vox espera eleger um deputado pela primeira vez.

Depois de entrar com força no Parlamento em abril, o partido se estabilizou no cenário político desde que a direita se apoiou nele na tentativa de conquistar ou manter o poder em diferentes regiões e cidades espanholas, como Madri. As pesquisas atribuem que, com as eleições de hoje, o Vox chegue a conquistar até 49 das 350 cadeiras da Câmara, contra 24 atualmente.

Segundo o historiador Xavier Casals, o partido, fundado em 2014, é comparável a outros existentes na Europa e considerados de direita populista radical e de extrema direita, como o Agrupamento Nacional, de Marine Le Pen, na França, e a Liga, de Matteo Salvini, na Itália. ;O Vox vem da ala dura do PP e usa questões que o PP havia inicialmente levantado no debate público e retirado, como rejeição ao aborto, ao casamento gay ou à lei contra a violência de gênero, que o partido acusa de criminalizar o homem;, explica o especialista.

Debate

Líder do partido, Santiago Abascal mantém um discurso de ;os espanhóis primeiro;, muito hostil em relação aos imigrantes, que ele pretende associar aos ;rebanhos de estupradores;, afirma Xavier Casals. Na última segunda, Abascal participou de um debate televisionado, o primeiro que contou com um representante da extrema direita desde a restauração da democracia, em 1977.

Os vínculos do novo partido com os defensores da ditadura de Francisco Franco (1939-1975) não são assumidos publicamente. No entanto, Abascal chama de ;profanação; a exumação de Franco de seu gigantesco mausoléu e afirma que o verdadeiro objetivo do presidente do governo, o socialista Pedro Sánchez, é ;derrubar; o rei Felipe VI.