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O sinal de alerta voltou a soar ontem, nos centros nervosos do Partido Republicano, na ressaca de uma noite eleitoral em que a oposição democrata fez avanços expressivos, em especial em um estado que deu ao presidente Donald Trump uma vitória esmagadora, em 2016. Mais importante que a vitória no governo estadual do Kentucky e a conquista da maioria nas duas casas do Legislativo da Virgínia foi a distribuição geográfica do voto: o Partido Democrata consolida posições nas áreas suburbanas que concentram a classe média e média alta, um eleitorado cuja perda poderá condicionar a estratégia do presidente na campanha pela reeleição em novembro de 2020.
A presença de Trump no palanque na segunda-feira, véspera da eleição, não foi o bastante para salvar da derrota o governador republicano do Kentucky, Matt Bevin. Apesar do esforço na reta final, ele terminou a contagem com uma desvantagem de 5 mil votos para o desafiante Andy Beshear, filho do último político democrata a governar o estado. Bevin não aceitou a vitória declarada pelo oponente e apontou ;irregularidades;, sugerindo que pedirá recontagem.
A despeito da indefinição, o resultado foi recebido como um sinal preocupante pelos estrategistas do campo governista. Estado do centro-sul, de perfil marcadamente conservador e histórico republicano, o Kentucky deu vitória a Trump na disputa presidencial de 2016 com 30 pontos de vantagem sobre a candidata democrata, Hillary Clinton. O presidente procurou ontem minimizar o revés, ao menos o próprio: pelo Twitter, ressaltou que seu candidato ;subiu 15 pontos; na reta final, com sua presença na campanha, admitiu que ;pode não ter sido suficiente; e arrematou dizendo que ;a imprensa mentirosa vai culpar Trump;.
Assim como no Kentucky, também na Virgínia a chave do sucesso para os democratas foram os subúrbios ; no segundo caso, de cidades próximas a Washington, a capital federal. Russ Schriefer, veterano estrategista republicano, adiciona à lista os reveses sofridos em eleições locais nas áreas de Indianápolis e Filadélfia, e observa que o fator determinante dos maus resultados foi o descontentamento com o presidente. ;Cada eleição, em qualquer localidade, está sendo disputada ao ritmo de Trump;, analisa Schriefer. ;É um fenômeno 100% Trump;, concorda outra estrategista do campo presidencial.
Essa especialista, ouvida pelo jornal The Washington Post sob a condição de manter o anonimato, acrescenta à análise dos resultados um elemento captado também em pesquisas nacionais de intenção de voto: a crescente rejeição ao presidente por parte das mulheres brancas de classe média com formação universitária. ;Atualmente, não existe fórmula que dê a vitória nos subúrbios a um candidato republicano, seja homem, mulher ou representante de uma minoria;, desabafa a estrategista.
Na última pesquisa nacional do Post, que mostrou Trump em desvantagem clara para os principais possíveis adversários na eleição de novembro de 2020, o quadro captado nos subúrbios retrata a sangria sofrida pelo presidente no eleitorado feminino. Entre os homens, ele bateria o ex-vice-presidente Joe Biden por 53% a 41%, e a senadora Elizabeth Warren por 54% a 42%. Entre as mulheres, porém, perde para ambos por margem entre 15 e 20 pontos.
;Cada eleição, em qualquer localidade, está sendo disputada ao ritmo de Trump;
Russ Schriefer, estrategista eleitoral do Partido Republicano
;A imprensa mentirosa vai culpar Donald Trump;
Donald Trump, presidente dos EUA