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Opositor barrado em La Paz

O líder da região de Santa Cruz viaja à capital para pressionar o presidente Evo Morales a renunciar e é retido no aeroporto por manifestantes favoráveis ao governo, mas promete voltar "hoje e todos os dias". Protestos entram pela terceira semana

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O líder regional boliviano que desponta como a figura mais estridente e visível ao presidente Evo Morales promete para hoje a segunda tentativa de desembarcar na capital, La Paz, para levar uma carta de renúncia ; que ele próprio redigiu para que o mandatário a assine. Luis Fernando Camacho, que comanda o Comitê Cívico de Santa Cruz, região próspera do leste do país, teve ontem de retornar ao seu reduto depois de ter sido barrado no aeroporto de El Alto, por manifestantes favoráveis a Morales.

Assim como outros adversários do governo, Camacho rejeita o resultado oficial da eleição presidencial do último dia 20, que proclamou a reeleição do presidente em primeiro turno, por margem mínima. Desde a semana passada, uma missão técnica da Organização dos Estados Americanos (OEA) conduz uma auditoria no processo, cujo resultado o governo boliviano se compromete a acatar, mas a oposição exige a realização de segundo turno entre Morales e o segundo colocado, Carlos Mesa.

Em meio a uma onda de protestos contra o presidente e as autoridades eleitorais, Camacho e o Comitê de Santa Cruz lideram o desafio mais radical ao governo. Desde o anúncio do resultado oficial, a região foi declarada em ;paralisação cívica;, e ontem, após lançar o desafio publicamente em um comício, o líder do comitê embarcou com destino à capital. Mesmo frustrado pela resistência dos manifestantes convocados pelo Movimento ao Socialismo (MAS, governista), Camacho prometeu não desistir e convocou os seguidores a paralisarem completamente a região. ;Amanhã (hoje), às duas e meia da tarde, retorno a La Paz. E será assim todos os dias, até que eu consiga entrar no palácio do governo;, anunciou ao chegar de volta a Santa Cruz.

Camacho, um advogado de 40 anos, não se apresentou como candidato à Presidência na eleição de outubro, mas nas últimas três semanas assumiu um protagonismo que ofusca o próprio candidato apontado pelos demais opositores como a esperança de derrotar Morales, 62, no poder desde 2006. Carlos Mesa foi eleito vice-presidente em 2002, na chapa de Gonzalo Sánchez de Lozada, que renunciou em outubro de 2003, acuado por protestos comandandos por Morales e pelo MAS. O próprio Mesa, em condições semelhantes, optou pela renúncia em março de 2005.

A crise na Bolívia concentra as atenções na sede da OEA, em Washington, onde o secretário-geral do organismo, Luis Almagro, pediu às autoridades bolivianas que ;garantam a liberdade de movimento e circulação; do líder de Santa Cruz. Na véspera, durante sessão extraordinária da organização, o chanceler da Bolívia, Diego Pary, denunciou ;um golpe de Estado em curso;. ;A agressão seletiva aos cidadãos e às forças de segurança, o apelo para que as Forças Armadas e a Polícia Nacional se rebelem e, finalmente, a convocação ao presidente Evo Morales para deixar o governo são claras evidências;, discursou o ministro.