A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera tolerável a presença de 25 microgramas de partículas finas PM2,5 por metro cúbico de ar. Ontem, Nova Délhi registrou um índice de 810 microgramas ; 32 vezes acima do limite aceitável para a saúde humana. Na metrópole de 21 milhões de habitantes e cerca de 8,8 milhões de carros, mal se podia enxergar o horizonte, tamanha a nuvem de poluição que cobria a cidade. De acordo com Arvid Kejriwal, ministro-chefe de Nova Délhi, o nível de poluentes no norte da Índia atingiu ;níveis insuportáveis;. Em algumas áreas, a qualidade do ar foi classificada como ;perigosa;, e as autoridades recomendaram que as pessoas ficassem dentro de casa.
A péssima visibilidade no Aeroporto Internacional Indira Gandhi levou ao desvio de 37 voos. As autoridades distribuíram máscaras para a população e determinaram o fechamento das escolas. Por sua vez, o ministro da Saúde de Nova Délhi, Satyendar Jain, publicou em seu perfil no Twitter recomendações aos cidadãos. ;A poluição do ar atingiu um nível grave em Délhi, o que pode resultar em morbidade entre pessoas expostas. O público geral é aconselhado a evitar atividades físicas ao ar livre e a permanecer dentro de casa, especialmente durante a manhã e a noite;, escreveu. ;Consultem o médico mais próximo em caso de dificuldades respiratórias, tontura, tosse e irritação nos olhos.;
Em entrevista ao Correio, por telefone, de Nova Délhi, o cientista Rajendra Kumar Pachauri ; ex-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), laureado com o Nobel da Paz em 2007 ; avaliou a situação na cidade como ;muito ruim; e lembrou que tal cenário se repete todos os anos. ;Durante essa época, indianos incineram resíduos de agricultura, produzidos na colheita. A queima desse material origina uma imensa quantidade de poluição, trazida pelas correntes de ar até Nova Délhi. Também temos problemas na cidade, pois o sistema de transporte público tem sido responsável pela emissão de muitos poluentes;, explicou. Segundo ele, a poeira que se levanta de construções e de áreas desérticas agrava o problema.
Esforço
Pachauri defende um esforço concentrado para reverter o fenômeno. ;Em primeiro lugar, é preciso uma ação por parte dos distritos de Punjab e Haryana, onde os resíduos da agricultura são queimados. Temos de encontrar uma alternativa a essa queima;, disse. ;No caso de Nova Délhi, torna-se urgente encontrar melhores opções de transporte público. Os ônibus a diesel devem ser aposentados. Poucas semanas depois do fim dessa terrível poluição, os moradores terão se esquecido das razões subjacentes. Precisamos de atitude das pessoas, para que pressionem os políticos e as autoridades.;
O ex-presidente do IPCC afirmou acreditar que os índices de poluição em 2019 superam os dos últimos anos e adverte que o quadro poderia ser ainda mais grave. ;Há poucos dias, tivemos um festival de música chamado de Parvati Valley. Durante os eventos, muitos fogos de artifício costumam ser soltos. Dessa vez, a quantidade de fogos utilizada foi menor;, comentou Pachauri. ;O que vivemos aqui é algo muito terrível, pois excede, e muito, os limites determinados pela OMS. Crianças, portadores de asma e idosos sofrem muito com essa poluição.;
1,2 milhão
Total de mortes prematuras registradas na Índia em 2017 e atribuídas à contaminação atmosférica, segundo estudo publicado pela revista científica The Lancet
Eu acho...
;Em Nova Délhi, existe o hábito de cada carro transportar somente o motorista. Uma das soluções imediatas passaria pelo compartilhamento dos veículos. As autoridades deveriam começar a dialogar com os estados onde esses resíduos de agricultura são queimados. Isso tem de ser iniciado hoje, pois, no próximo ano, teremos os mesmos problemas. Também precisamos utilizar ônibus ecologicamente viáveis e aumentar os padrões para a fabricação de automóveis. O transporte público tem de ser aprimorado dentro de seis meses.;
Rajendra Pachauri, ex-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e Prêmio Nobel da Paz em 2007