[FOTO1]Aviso prévio para
o Grupo de Lima
Com menos de uma semana de eleito para suceder Mauricio Macri no comando da Argentina, Alberto Fernández reiterou em público a decisão de afastar o país da articulação diplomática costurada pelo antecessor com os governos brasileiro e colombiano, com aval da Casa Branca, para coordenar a pressão externa pela saída de Nicolás Maduro da presidência da Venezuela. O parceiro prioritário do Brasil na América do Sul vai mesmo se desligar do Grupo de Lima e engrossar a ;terceira via; buscada por México e Uruguai, em tabelinha com a União Europeia (UE). Nessa frente, em vez do isolamento do regime chavista, a busca é por reconstruir pontes com a oposição ; uma função que o Brasil exerceu à exaustão nos anos Lula, especialmente, com os concursos do chanceler Celso Amorim e do assessor especial Marco Aurélio Garcia.
A declaração de intenções do presidente eleito peronista prenuncia um período de certo desencontro entre os dois carros-chefes do Merosul, com consequências inevitáveis para o bloco. Tanto mais que deve entrar em pauta, com Fernández e Bolsonaro no leme, o processo de redação final e ratificação do acordo comercial firmado com a UE. A dupla peronista, com Cristina Kirchner como uma vice de alto relevo, não faz segredo da disposição para dificultar a tramitação e a aprovação do acordo no Congresso, onde tem maioria. Mesmo depois de Bolsonaro ter ameaçado em público ;isolar a Argentina; no Mercosul, caso ;a turma do Foro de São Paulo; se decida a ;atrapalhar;.
Bola da vez
Ainda nos primeiros dias da transição na Casa Rosada, um tema imediato da vizinhança se coloca sobre a mesa, com potencial para exigir atitudes antes da transferência de poder do direitista Mauricio Macri para Fernéndez e Cristina. A Organização dos Estados Americanos (OEA) acaba de começar uma auditoria na eleição presidencial do último dia 20 na Bolívia, cujo resultado oficial proclamado foi a vitória em primeiro turno do presidente Evo Morales ; outro da ;turma do Foro;. Os governos de Bolsonaro e Macri firmaram uma declaração conjunta com Colômbia, Paraguai e EUA, entre outros, ;recomendando; a realização de segundo turno entre Evo e o candidato da oposição, Carlos Mesa, que denuncia fraude.
O governo boliviano aceitou a auditoria da OEA como vinculante ; ou seja, promete acatar a palavra final dos especialistas. O presidente eleito da Argentina, assim como os governantes do México e do Uruguai, já cumprimentaram o compañero pela vitória. Para complicar, Mesa decidiu rejeitar a revisão feita pelo organismo interamericano, por ter sido acertada ;unilateralmente; com as autoridades locais.
Mal-me-quer
Na medida em que palavras e gestos de momento traduzem e ilustram o que virá de real pela frente, será preciso gastar muito portunhol para destravar o mal-estar desenhado entre Brasília e Buenos Aires. No domingo passado, em que a eleição argentina coincidiu com o aniversário do ex-presidente Lula, o vitorioso por lá fez questão de postar nas redes sociais uma mensagem em que transmitia os parabéns, protestava contra o que considera uma prisão política e fazia com amigos e correligionários o gesto de ;Lula livre;.
O presidete brasileiro não gostou e fez questão, da sua parte, de anunciar que não se dirigiria ao presidente eleito da Argentina para felicitá-lo pela vitória. Não foram adiantadas as cenas dos próximos capítulos.
Pagou o pato
Sobrou para o embaixador brasileiro em Montevidéu, Antônio Simões, a missão de ouvir os protestos do governo uruguaio contra as declarações de Bolsonaro sobre o primeiro turno da disputa presidencial no país ; no mesmo domingo em que foram às urnas os argentinos. Na outra margem do Prata, o desfecho foi outro e a eleição vai para o segundo turno entre o governista Daniel Martínez, da esquerdista Frente Ampla, e o candidato da centro-direita, Luis Lacalle Pou, do tradicional Partido Nacional. A ;turma do Foro; emplacou o primeiro lugar, mas abaixo de 40% dos votos, e vai para o tira-teima, no próximo dia 24, com uma missão quase impossível: o terceiro e o quarto colocados, ambos da oposição, anteciparam o apoio a Lacalle, que lidera as pesquisas.
O presidente brasileiro, como fez em relação à Argentina, não se furtou a declarar a torcida pela oposição, ;alguém mais ligado ao nosso time;, como declarou em entrevista. E, aludindo à possível continuação da esquerda no governo em Montevidéu, falou em ;se preparar para o pior;. O embaixador brasileiro foi chamado formalmente à chacelaria uruguaia para dar explicações.
Antes só
Não apenas pela repercussão das colocações de Bolsonaro, Lacalle preferiu declinar do apoio do vizinho e distanciar-se publicamente. Durante a onda de protestos no Chile, o presidente brasileiro foi alvo de grupos de manifestantes. E, recentemente, três dos políticos aos quais manifestou apoio se despediram do governo: além de Macri, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ex-homem forte do gabinete italiano, Matteo Salvini.