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Enquanto os fogos de artifício explodiam sobre a Praça Tahrir, no coração de Bagdá, mais de 1,5 milhão de pessoas cantavam, a uma só voz, na noite de ontem: ;Com a vida e com o meu sangue, eu defenderei você, Iraque!”. Há 29 dias acampado em Tahrir, o ativista civil Yusuf Al-Qaisi tentava driblar a ;internet intermitente e confusa;, depois que o governo determinou medidas para dificultar a conexão. ;A situação é muito ruim. Estamos sendo mortos pelas milícias iranianas. Todos os dias, pelo menos cinco de nós são assassinados e centenas ficam feridos pelas bombas de gás lacrimogêneo. À noite, há uso de munição letal e dezenas de franco-atiradores por perto;, desabafou ao Correio, por meio meio do Messenger.
Desde 1; de outubro, 250 iraquianos morreram e 6 mil ficaram feridos durante protestos na capital e no sul do país contra o governo do primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi, no poder há um ano. As forças de segurança são acusadas de reprimir as manifestações de forma desproporcional. Sem qualquer filiação partidária, o movimento apresenta, como principais demandas, o fim da corrupção, a melhoria dos serviços públicos, a geração de empregos, a redação de uma nova Constituição e a renovação total da classe política ; praticamente inalterada nos últimos 16 anos.
Os protestos ganharam, ontem, uma adesão de forte peso simbólico. O clérigo xiita Moqtada Al-Sadr foi fotografado conduzindo o próprio carro rumo a uma marcha na cidade sagrada de Najaf, no centro do Iraque. Al-Sadr defendeu a renúncia de Mahdi e de todo o gabinete, o qual ele próprio ajudou a formar. No último sábado, os cerca de 50 parlamentares da bancada do religioso fizeram uma mobilização, sentados, em apoio aos manifestantes. Em Karbala, outro santuário xiita, homens encapuzados dispararam contra cidadãos que protestavam nas ruas, matando pelo menos 18. O governador da província, Nassif Al-Khutabi, negou a morte de qualquer manifestante, contrariando testemunhas. Uma correspondente da rede de TV Al-Jazeera comentou que 45 corpos chegaram a um dos hospitais da cidade.
Gás lacrimogêneo
A ativista iemenita Tawakkol Karman, 40 anos, laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 2011, publicou um vídeo que mostra a Praça Tahrir iluminada por luzes de celular e por laser verde. ;Glória ao grande Iraque e revolução até a vitória;, escreveu. De acordo com a rede de TV Al Arabiya, as autoridades cortaram a eletricidade em Tahrir e começaram a bombardear os civis com gás lacrimogêneo, no fim da noite, na tentativa de impedir o avanço até a Zona Verde, área fortificada de Bagdá que abriga o Parlamento, várias embaixadas e prédios do governo.
Hameed Khalid Darweesh, intérprete dos EUA durante a Guerra do Iraque, se preparava ontem para viajar de Nova York para Erbil, capital do Curdistão iraquiano. ;Eu apoio a revolução de meu povo contra a corrupção. Trata-se de um levante contra o governo corrupto, controlado pelos iranianos. Esse governo não representa os iraquianos, pertence ao Irã, que usa milícias para matar civis;, afirmou ao Correio.
Na tentativa de uma resposta política à convulsão social, o Parlamento iraquiano prometeu, anteontem, a formação de uma comissão para analisar possíveis emendas constitucionais. Os legisladores devem voltar a se reunir, hoje, e os integrantes da bancada de Moqtada Al-Sadr anunciaram uma possível debandada para a oposição, o que deixaria o premiê Mahdi sem maioria na Casa. O poder do primeiro-ministro se sustenta pelo apoio dos poderosos paramilitares das Unidades de Mobilização Popular. (RC)
250
Total de mortos durante os violentos protestos que eclodiram em Bagdá e no sul do país, desde 1; de outubro