Os bloqueios de estradas por manifestantes aumentaram ontem no Líbano, marcando sua determinação contra a classe política no nono dia de uma mobilização sem precedentes. Cada vez mais visíveis nas ruas, militantes do poderoso movimento xiita pró-iraniano Hezbollah estiveram envolvidos em confrontos em Beirute, indignados com as críticas a seu líder, o xeque Hassan Nasrallah. O Hezbollah é o único movimento político armado do país, em nome de sua luta contra Israel.
No dia seguinte a um discurso à nação, pronunciado pelo presidente Michel Aoun e considerado decepcionante, dezenas de novas barricadas apareceram nas estradas, fortalecendo a paralisia do país, constataram correspondentes da agência France-Presse. O bloqueio da via que liga Beirute ao norte do país foi mantido. Grandes lonas azuis foram instaladas para proteger os manifestantes da chuva e permitir que alguns passassem a noite. ;Fechada por causa da divisão do país;, dizia um cartaz, enquanto inúmeras placas recordavam a principal reivindicação do movimento de protesto: a substituição imediata de uma classe política incapaz de endireitar o país e quase inalterada desde o fim da guerra civil (1975-1990).
Presente em massa nas ruas nos dois dias anteriores, o Exército adotou uma postura mais discreta, apesar do chamado de Aoun para garantir a ;liberdade de circulação dos cidadãos;. O movimento de contestação foi deflagrado em 17 de outubro pelo anúncio inesperado de um imposto sobre as chamadas via WhatsApp, imediatamente cancelado. O presidente Aoun, ex-general de 84 anos, propôs se reunir com ;representantes; dos manifestantes, cujo movimento espontâneo não tem precisamente líderes ou porta-vozes. Ele apoiou o plano de reforma apresentado na segunda-feira pelo primeiro-ministro Saad Hariri, imediatamente rejeitado pelas ruas. Também sugeriu uma mudança ministerial, a única pista séria de seu discurso, de acordo com a imprensa.