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Software permite 'tocar' em objetos virtuais

Com sistema de realidade aumentada desenvolvido por americanos, usuários usam o smartphone para desempenhar atividades diversas, como empilhar blocos e pintar paredes. Solução poderá ser usada por desenvolvedores de jogos e artistas

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Um sistema de software desenvolvido por cientistas norte-americanos é capaz de transformar telefones em uma espécie de portal de realidade aumentada. A nova tecnologia permite que o usuário do celular coloque blocos de construção virtuais e outros objetos em cenários do mundo real usando as próprias mãos para manipulá-los. Os criadores da tecnologia, chamada Portal-ble, acreditam que a ferramenta possa ser usada principalmente por artistas, designers e desenvolvedores de jogos.

A ideia do projeto surgiu devido à frustração da equipe com aplicativos de realidade aumentada usados em smartphones para jogos de videogames interativos. Os cientistas explicam que essas tecnologias colocam objetos virtuais em cenas do mundo real, mas, para interagir com esses objetos, é exigido que os usuários toquem na tela do aparelho. ;Apenas deslizar a tela não era uma maneira satisfatória de interagir;, frisa, em comunicado, Jeff Huang, professor-assistente de ciência da computação da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, e um dos autores do projeto.

Jeff Huang conta que ele e colegas se dedicaram ao desafio de deixar essa experiência mais próxima da realidade. ;No mundo real, interagimos com os objetos com as nossas mãos. Giramos as maçanetas, pegamos e jogamos coisas. Por isso, pensamos que manipular objetos virtuais manualmente seria algo muito mais poderoso do que deslizar um botão;, diz.

A plataforma tem um pequeno sensor infravermelho montado na parte traseira do telefone. O sensor rastreia a posição das mãos do usuário em relação aos objetos virtuais, permitindo que ele pegue objetos, gire-os, empilhe-os ou solte-os. Com o Portal-ble, também é possível usar as mãos para ;pintar; virtualmente os cenários do mundo real.

Física ajustada

Jeff Huang conta que o maior desafio técnico foi o desenvolvimento de ferramentas que permitissem aos usuários interagir intuitivamente com objetos virtuais. ;Acontece que pegar um desses objetos é realmente difícil se você tentar aplicar a física do mundo real. As pessoas tentam agarrar no lugar errado ou enfiam os dedos neles. Portanto, tivemos que observar como elas tentavam interagir com esses objetos e, então, tornar nosso sistema capaz de acomodar essas ;tendências; de movimento;, explica.

Para os testes, foram selecionados alunos dos cientistas, que realizaram tarefas envolvendo as diferentes possibilidades da solução tecnológica, como empilhar um conjunto de blocos. Também foi solicitado a outros voluntários que tentassem executar as tarefas usando um protótipo do software. Ao longo dos experimentos, os pesquisadores registraram o que os participantes conseguiam e o que não conseguiam fazer.

A partir dos dados, a equipe ajustou a física do sistema e a interface do usuário para tornar as interações bem-sucedidas. ;É um pouco como o que acontece quando as pessoas desenham linhas no Photoshop. As linhas nunca são perfeitas, mas o programa pode suavizá-las e torná-las perfeitamente retas. Esses eram os tipos de ;acomodações; que precisamos incluir na nossa tecnologia;, explica Huang.

Retorno sensorial

A equipe também adicionou feedback sensorial ; destaques visuais e vibrações ; para facilitar as interações. Segundo Jeff Huang, foi uma surpresa observar que as vibrações do telefone ajudaram os usuários a interagir. As pessoas sentem as vibrações apenas na mão usada para segurar o telefone, não na mão que estão ;segurando; o objeto virtual. Nos estudos de acompanhamento, os usuários relataram que os aprimoramentos do sistema tornaram as tarefas significativamente mais fáceis, menos demoradas e mais satisfatórias.

Os criadores planejam continuar trabalhando com o Portal-ble, expandindo a biblioteca de objetos, refinando interações e desenvolvendo novas atividades. Eles também esperam otimizar o sistema para que ele funcione inteiramente em um telefone, já que, no projeto atual, é necessário um sensor infravermelho de computação externo para aumentar o poder de processamento da tecnologia.

Download livre

A equipe espera que as pessoas baixem o código-fonte disponível gratuitamente e o testem. ;Nós queremos divulgar e ver o que as pessoas fazem com essa tecnologia. O código está no nosso site para pessoas que desejam fazer o download, editar e criar com base nele. Será interessante ver o que pode surgir;, ressalta.

A expectativa é apesentar o software, no final deste mês, durante o Simpósio sobre Soft-ware e Tecnologia de Interface do Usuário (UIST 2019), realizado em Nova Orleans, nos Estados Unidos. ;Criamos uma ferramenta que pode ser usada em qualquer lugar e de maneira fácil, sem fones de ouvido volumosos, por exemplo. Também era nosso desejo que as pessoas pudessem interagir com o mundo virtual de maneira mais natural, usando as mãos, e conseguimos. Acreditamos que essa tecnologia será um novo e excelente modo de interação;, frisa Jeff Huang.


"Era nosso desejo que as pessoas pudessem interagir com o mundo virtual de maneira mais natural, usando as mãos, e conseguimos. Essa tecnologia será um novo e excelente modo de interação;

Jeff Huang,
professor-assistente de ciência da computação da Universidade de Brown

Participe

O possível fazer download do software pelo site https://majiaju.io/portal-ble