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Protestos desafiam militares

Saques e distúrbios se alastram por Santiago, Valparaíso e Concepción, colocadas sob toque de recolher noturno. A explosão de descontentamento faz as primeiras mortes e acumula um saldo de 1.462 detidos. Estudantes programam manifestações para hoje

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O toque de recolher determinado na noite de sábado pelo general Javier Iturriaga, encarregado da segurança em Santiago, sob estado de emergência desde sexta-feira, não impediu que os distúrbios iniciados com o aumento da passagem do metrô continuassem pela madrugada e se repetissem no domingo. O presidente do Chile, o direitista Sebastián Piñera revogou a alta das tarifas, mas uma onda se saques se alastrou pela capital e por cidades como Valparaíso e Concepción, onde também está em vigor o estado de exceção. Ao menos duas pessoas morreram em incêndios que irromperam durantes saques ; duas em um supermercado e cinco em uma fábrica. Até o início da noite, as autoridades contabilizavam 1.462 detidos em todo o país, e o toque de recolher foi prorrogado por mais uma noite, com início às 19h.

;A democracia tem a obrigação de se defender;, afirmou Piñera depois de se reunir, no fim da tarde, com os presidentes da Câmara dos Deputados e da Suprema Corte. ;A democracia não apenas tem o direito, como tem a obrigação de se defender, usando todos os instrumentos que lhe entrega o estado de direito para combater aqueles que querem destruí-la.;

Com o Exército patrulhando as ruas pela primeira vez desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet, em 1990, Santiago passou o domingo praticamente paralisada. Os transportes públicos, suspensos desde sábado, não têm prazo para retornar, e os deslocamentos na cidade só eram possíveis por táxis ou carros de aplicativos. O metrô, que teve 78 estações danificadas ; algumas delas totalmente destruídas ;, contabiliza prejuízos da ordem de US$ 300 milhões, e algumas linhas poderão levar meses até voltar a circular normalmente. Vôos foram adiados ou cancelados e o aeroporto teve um domingo caótico.

As universidades e as escolas decidiram suspender as aulas na segunda-feira, mas a semana começa com mais uma jornada de protestos convocada pelas organizações estudantis, que nos últimos anos protagonizaram grandes manifestações. Embora concentrado na política educacional e na demanda pela gratuidade no ensino superior, o movimento se volta contra a orientação política e econômica de Piñera.



Sem controle

Praticamente todo o comércio permaneceu no fim de semana com as portas fechadas, em especial os supermercados. Ainda assim, em diferentes pontos da cidade e da região metropolitana, grupos de pessoas forçavam a entrada e retiravam as mercadorias até a intervenção das forças de segurança. Vídeos postados nas redes sociais mostraram jovens invadindo uma loja da rede Jumbo e outro da rede Lider, ambos no bairro de Peñalolén.

A presença de 11 mil militares nas três cidades não conteve a explosão de descontentamento, que se estendeu para outros efeitos das políticas privatistas de Piñera, como o baixo valor das aposentadorias e os custos elevados da educação e dos serviços de saúde. ;Basta de abusos; foi um dos lemas gritados nas ruas, desde sexta-feira. A hashtag #ChileAcordou viralizou nas redes sociais. O movimento não tem uma liderança definida nem um comjunto sistematizado de reivindicações, embora tenha sido deflagrado pelo aumento mais brusco imposto às passagens de metrô desde 2010.

;Estamos vivendo elevadíssimos níveis de delinquência e saques;, admitiu o ministro da Defesa, Alberto Espina. O titular do Interior e da Segurança Pública, Andrés Chadwick, confirmou que duas pessoas foram baleadas durante incidente com polícia entre os bairros de Puente Alto e La Pintana, em Santiago.


"A democracia não apenas tem o direito, como tem a obrigação de se defender, usando todos os instrumentos que lhe entrega o estado de direito para combater aqueles que querem destruí-la;

Sebastián Piñera,
presidente do Chile