Jornal Correio Braziliense

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Duas perguntas para

Elisa Porto, oncologista do Centro de Câncer de Brasília (Cettro) / Rede Einstein

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Atualmente, qual o prognóstico e o tratamento das pacientes com câncer de mama triplo negativo?
Indubitavelmente, o subtipo de câncer de mama em que as pesquisas têm avançado mais rapidamente é o triplo negativo e, com isso, observa-se melhora do prognóstico dos pacientes. Esse subtipo de câncer representa cerca de 15% de todos os casos de câncer de mama no mundo e se destaca por afetar, geralmente, mulheres jovens e ser agressivo. Contudo, se a doença for diagnosticada precocemente, poderá alcançar percentuais de cura como os demais subtipos. O arsenal terapêutico disponível conta com quimioterapia, cirurgia, radioterapia e, mais recentemente incorporada, a imunoterapia, que é uma forma de tratamento que utiliza o próprio sistema imunológico para combater o câncer. Uma modalidade de tratamento ou a combinação delas pode ser oferecida, a depender do estágio da doença.

Os autores do estudo Keynote-222 acreditam que os resultados já justificam a aprovação pelo FDA e que esse tratamento já deveria ser adotado como padrão, primeira linha. A senhora concorda?
O tratamento padrão do câncer de mama triplo negativo em estágio inicial envolve quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia. A resposta patológica, após quimioterapia, se correlaciona com a probabilidade de recidiva da doença, sendo que as pacientes que apresentam resposta patológica completa, ou seja, que não apresentam doença residual após a quimioterapia, apresentam altas chances de cura. Esse novo estudo, o Keynote-522, avaliou a adição de imunoterapia ao tratamento neoadjuvante padrão, quando se observou um aumento significativo na taxa de resposta patológica completa, bem como uma tendência de aumento de sobrevida livre de eventos, favorecendo a adição da imunoterapia. Diante disso, a adição de imunoterapia ao tratamento neoadjuvante com quimioterapia torna-se, potencialmente, um novo padrão e que poderá aumentar a taxa de cura dessas pacientes. Portanto, todos os esforços devem ser voltados para a inclusão dessa medicação pelas agências regulatórias, no Brasil e no mundo, permitindo que muitos pacientes se beneficiem mais rapidamente de novos tratamentos eficazes.