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Chilenos derrubam aumento do metrô

No dia seguinte a uma madrugada de fúria que o obrigou a decretar o estado de emergência para conter distúrbios e depredações em Santiago, o presidente do Chile, o direitista Sebastián Piñera, recuou e revogou o aumento das passagens de metrô, que deu origem aos protestos. O anúncio foi feito no Palácio de La Moneda, a sede do governo, enquanto as manifestações se repetiam na capital e se alastravam para outras grandes cidades, como Valparaíso e Viña del Mar. Panelaços apoiavam o movimento iniciado na véspera pelos estudantes contra a alta mais brusca imposta às tarifas desde 2010.

Pela primeira vez desde o fim da ditadura comandada pelo general Augusto Pinochet, entre 1973 e 1990, o Exército foi mandado para as ruas, na sexta-feira, para enfrentar manifestantes mascarados que atacaram e incendiaram estações de metrô, ônibus e sedes de órgãos públicos. As queixas se estenderam ao modelo econômico privatista implantado por Piñera ; cuja imagem jantando com a família em uma pizzaria, em meio aos protestos, viralizou nas redes sociais e ajudou a acirrar os ânimos.

O centro de Santiago amanheceu patrulhado pelos militares, com marcas expostas dos conflitos que entraram pela madrugada: carcaças de ônibus queimados, bicicletas de aluguel arrebentadas e restos de barricadas se amontoavam nas ruas. Com 40 estações destruídas total ou parcialmente, o serviço de metrô foi suspenso. A retirada dos ônibus de circulação se somou para que a cidade entrasse no fim de semana praticamente paralisada, sem previsão de data para a reativação dos transportes.

;No momento, está tudo calmo;, afirmou de manhã o general Javier Iturriaga, que comanda a operação militar na capital e colocou 500 militares nas ruas. O presidente, alvo central dos protestos, foi criticado pela demora em responder à espiral de violência na sexta-feira. Apenas no início da madrugada, com a situação fora de controle, foi decretado o estado de emergência. O balanço oficial contabilizou 156 policiais e 11 civis feridos e um todal de 308 detidos.

Convocados pelas redes sociais, por iniciativa de movimentos estudantis, os manifestantes começaram se dirigindo às estações de metrô e pulando as catracas de acesso às plataformas de embarque. No início da noite, as concentrações ganharam maior presença e os incidentes se multiplicaram, com grupos de mascarados lançando pedras e pedaços de pau contra a tropa de choque e ateando fogo às estações. A sede da empresa de energia elétrica Enel também foi incendiada e um supermercado próximo foi saqueado.

Os estudantes chilenos protagonizaram uma onda de manifestações em massa durante o mandato anterior de Piñera, entre 2010 e 2014, com foco central na exigência de gratuidade no ensino superior. O movimento perdeu intensidade durante o governo da socialista Michelle Bachelet (2014-2018), que enviou ao Congresso um projeto de reforma do setor. O retorno da direita ao governo recolocou na agenda socioeconômica do país temas como o baixo valor das aposentadorias e o custo elevado da saúde e da educação ; nos três casos, setores operados pela iniciativa privada.